DA ILUSTRE TERRA DO MARQUÊS | Será que o futuro é dos animais?

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Tratava-se de uma cerimónia muito importante para aquele município e, por isso, o salão nobre estava completamente cheio, não havendo lugares sentados, pelo que muitos cidadãos interessados, assistiam àquele ato solene de pé. Depois de uma campanha eleitoral extremamente disputada, em que, contra todas as previsões, ganhou o candidato que a maioria pensava que ia perder, chegou o dia da tomada de posse. A cerimónia decorreu com elevação, fizeram-se os discursos da praxe e os juramentos obrigatórios, sendo evidente a curiosidade e a satisfação da maioria dos espectadores. Mas, dentre estes, sobressaia uma senhora, ainda nova, que, denotando um contentamento adicional, segurava carinhosamente, ao colo, um cãozito, que também evidenciava um ar prazenteiro, mesmo de felicidade. Olhava com um ar rafeiro para os espetadores mais próximos, mas não se manifestou e ainda bem, porque iria naturalmente perturbar a cerimónia.
Mas, continuando à volta da democracia, não deixa de ser curioso que tenhamos, na nossa, um partido que se preocupa muito com os animais, ao ponto de os colocar ao mesmo nível das pessoas. Trata-se do PAN – Pessoas, Animais e Natureza, criado em 2011 e que, nas últimas eleições legislativas, até conseguiu eleger um deputado para a Assembleia da República. É evidente que a Natureza é muito importante, porque a nossa qualidade de vida, mais ou menos saudável, depende muito dela. Mas colocar os animais ao mesmo nível parece, evidentemente, exagerado.
Entrei naquele centro comercial, apesar de ser um local onde só vou se tiver que ser, para fazer algumas compras cuja necessidade e urgência familiares eram evidentes. À entrada, uma simpática menina, entregou-me um papelito que agradeci. Mais à frente, olhei para o tal papelito cujo aspeto gráfico até era interessante: tinha a fotografia de um gatito ao lado de um cãozito, o que até era enternecedor, porque sabemos que nem sempre se dão bem e ali até parecia serem amigos. Estava em causa uma “recolha nacional de alimentos para animais”, para um “banco solidário animal” e pedia-se para que contribuísse com: ração seca/húmida, trelas, coleiras e comedouros e produtos de limpeza. Estava escrito cão/gato, mas este último foi riscado, assim como a frase areia para o gato. Não se percebe a razão por que é que o cão foi privilegiado e o gato riscado do prospeto. Mas fiquei a pensar que somos uma sociedade evoluída e rica, em que já não há pessoas necessitadas e a precisar de apoio.
Para aquela família, o cãozito era quase a estrela e o centro das atenções. Parecia que se preocupavam mais com o cãozito do que com as pessoas que constituíam o agregado familiar. Mas eram evidentes as limitações e condicionantes que o bichinho trazia ao seu dia-a-dia. Levá-lo a passear na relva do jardim até podia ser saudável, exceto se o tempo fosse frio ou chuvoso. Depois as férias: sabe-se que até já há hotéis para cães e mesmo alguns hotéis para humanos tratam, separadamente, dos animais de estimação.
É frequente, quando circulamos de automóvel, ver um cãozito no banco de trás, viajando como passageiro frequente. Isso sucedeu-me há pouco tempo: um casal, já com alguma idade, viajava no seu automóvel. Pelo aspeto aparentavam ser turistas estrangeiros. No banco de trás, sorridente, denotando boa disposição, lá ia o cãozito admirando as paisagens, ficando, seguramente, a gostar do nosso país e dos seus encantos naturais.
Há já algum tempo que se fala na publicação de uma lei que permita que os animais de companhia, entrem nos restaurantes, mesmo nos chineses. Felizmente que a lei foi aprovada na Assembleia da República – o nosso Parlamento privilegia os assuntos importantes – e vai entrar em vigor em maio. Os restaurantes deverão estar devidamente sinalizados e podem fixar uma lotação máxima, o que se compreende, porque, caso contrário, o restaurante poderia virar canil, (ou gatil, etc.). Mas podemos ficar descansados, porque os animais terão de estar presos, “com trela curta” e “não podem circular livremente”. Os restaurantes podem fixar uma zona para animais, tal como já sucede com os fumadores. A iniciativa partiu do PAN atrás referido.
Cuidemos das Pessoas, protejamos a Natureza, porque o futuro parece ser dos Animais. Lafontaine (1621-1695) ficou célebre por ter escrito mais de uma centena de fábulas. Se fosse vivo e vivesse neste País, ficaria, certamente, feliz.

manuel.duarte.domingues@gmail.com

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Natural de Viuveiro, Vila Cã, Pombal (1948), residente em Pombal. Licenciado em Controlo de Gestão pelo Instituto Superior de Contab. e Administ. de Coimbra. Contabilista e Consultor de Empresas desde 1977. Revisor Oficial de Contas desde 1993 (de Empresas públicas e privadas, cooperativas, autarquias, etc.). Fiscal Único no âmbito do Ministério da Saúde de diversos Hospitais EPE, desde 2002. Presidente do Conselho Fiscal da Vista Alegre Atlantis, SGPS, SA. Ex-Professor do Ensino Secundário (EICPombal) e do Ensino Superior (ISCAC e ISLA). Serviço público prestado: Oficial Miliciano de Administração Militar, Membro da Assembleia Municipal de Pombal e Presidente da Assembleia de Freguesia de Vila Cã. Cargos exercidos em associações: Vice-Presidente da Direção da A H B V Pombal; Presidente do Conselho Fiscal de: AICP–Assoc.Indust.Conc.Pombal; da Santa Casa da Misericórdia de Pombal; e do Sporting Clube de Pombal. Presidente e Membro da Comissão Revisora de Contas da Fundação Rotária Portuguesa. Cargo atual: Presidente do Conselho Fiscal da A. H. dos Bombeiros Voluntários de Pombal, desde 2005. Livros publicados: “DA ILUSTRE TERRA DO MARQUÊS…” – 1º Volume (2011, 2ª edição 2013); 2º Volume (2016), reunindo crónicas publicadas em jornais e revistas e outros escritos, destinando-se o produto da venda, integralmente, a Instituições de Solidariedade Social.