HAPPY HOUR | Adoro programas eleitorais!

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Com um novo processo eleitoral quase à porta, foi possível termos um verão com novas e sorridentes caras a aparecerem aqui e ali, festas e redes sociais mais frequentadas e animadas e, claro, o regresso do cheirinho a alcatrão, acabado de colocar, nalgumas estradas (e caminhos) desse nosso Portugal (mais ou menos profundo).

Mas não é a agenda social das candidaturas, as estratégias de caça ao voto mais ou menos convencionais ou o ruído e a credibilidade das afirmações que uns e outros postam nas redes sociais que me impelem a escrever as próximas palavras. As promessas eleitorais que são grátis, que têm tanto de inovador, como de clássico e continuam livres de impostos e de qualquer penalização legal severa perante o seu incumprimento (o eleitorado penaliza? Ok…) essas sim, são sempre algo muito interessante de ler e analisar.

Qualquer cidadão (ou eleitor) tem sempre enorme dificuldade em entender ou aceitar um programa eleitoral parco em medidas sociais, quer porque considera que o bem estar social deve estar sempre em primeiro lugar nos objetivos da governação publica (é para isso que os governantes são eleitos por nós, dirão alguns), quer porque (já agora) seguramente encontrará outros programas bem mais interessante a este nível. A competição é feroz e não se pode arriscar em nada!

Alguém se preocupa em saber quais as medidas do ponto de vista da receita que um qualquer programa eleitoral contém, a sua sustentabilidade financeira ou onde pode descarregar o excel com a demonstração de resultados e a respetiva viabilidade do conjunto de promessas eleitorais apresentadas? Não creio.

A necessidade (ou urgência) em mostrar resultados no curto prazo, no dia seguinte, no instante imediato impede que, por exemplo, os gestores de uma região ou de um país, por força dos ciclos governativos curtos, prefiram agradar ao acionista (leia-se cidadão eleitor) com medidas e soluções que possam ser desenhadas e implementadas em prazos curtos (preferencialmente na fase final do mandato, pois a memória é curta), acabando, em regra, por resolver problemas imediatos e de caráter conjuntural.

E as grandes fragilidades, aqueles problemas importantes que todos conhecemos há muito tempo, de resolução longa e incerta, que nos atormentam, estrangulam, que encaramos como uma inevitabilidade nacional e acerca dos quais convivemos com um simples encolher de ombros? Quando é que alguém pega neles e decide encará-los de frente e resolvê-los? A não ser que seja já algo encarado na comunidade como uma calamidade na fase “elefante em loja de porcelanas” e que a oposição já não larga, nesse caso, terá de ser mesmo “atacado”. Ainda assim, será sempre mais fácil remeter a responsabilidade da sua resolução para a administração central.

Antes de mais eu diria que, a montante das propostas mais “eleitoralistas” do betão, lazer e asfalto, haveria sempre que concentrar a atenção em 3 áreas fundamentais: a captação do bom investimento, daquele que traz tecnologia e um efeito multiplicador para a área geográfica do concelho, depois a preocupação com a educação e requalificação dos munícipes e, por ultimo, conseguir realizar toda a missão mantendo, no final do mandato, recursos em caixa (inc boa capacidade de endividamento) que permita responder de forma regular (sem estrangulamentos ou adiamentos) às necessidades básicas de investimento futuras.

Mas estas iniciativas são realmente apelativas para o munícipe? Ele está mesmo preocupado com o crescimento económico atual e futuro do concelho, acredita que tem uma relação direta e instantânea no seu bem estar individual e que o investimento municipal com a educação dos munícipes irá atingi-lo e será a solução para os seus problemas pessoais no imediato? Será com base nisto que ele coloca a cruzinha na nossa candidatura? Hum… Tenho dúvidas.

O foco imediato e direto de toda a atenção do executivo municipal não deve ser o eleitor (perdão, o munícipe)? Produto interno é importante, mas felicidade interna é o que realmente conta! Tão simples quanto isso, dirão os marketeers políticos! Por isso os problemas sociais são aqueles que realmente importam: minimizar as desigualdades sociais, operando alguma redistribuição de rendimentos, contribuir para manter todas as pessoas ativas, ajudando a proporcionar trabalho para aquelas que dele necessitem e o corpo e mente ativos para todos e, por ultimo, cuidar bem dos recursos naturais, energéticos e de comunicação!

E esta longa mensagem já a minha avó Preciosa tão bem a sintetizava há muitos anos atrás, quando me falava sobre promessas eleitorais: para DAR, é preciso TER, mas vai haver sempre muito BLA, BLA pelo meio.

E é bem verdade! Ora vejamos: a privilegiar na missão e nas promessas autárquicas D = (re)Distribuição de rendimentos; A = Atividade para as pessoas e R = Recursos naturais cuidados, mas garantindo previamente T = Tecnologia; E = Educação e R = Recursos financeiros. No final, o que realmente abunda e é retido nas promessas eleitorais? B = Betão, L = Lazer e A = Asfalto.

 

Miguel Matias | Economista
miguel.matias@ymail.com