HIC ET NUNC | A Limonada

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No próximo dia 9 de Junho Portugal vai a votos para eleger os seus 21 deputados ao
Parlamento Europeu, numa eleição que é normalmente marcada por muita abstenção.

Em 2019 foram 68,6% os eleitores inscritos que escolheram não exercer o seu direito de voto, confirmando um grande desinteresse dos Portugueses pelo ato em si e pelo que acontece nas instituições europeias.
Portugal é membro da (UE) União Europeia desde 1986, à data denominada CEE (Comunidade Económica Europeia).
Foram muitas as transformações de fundo ocorridas no nosso País, muitos os milhões
recebidos e muitas as obras inauguradas. O escudo deu lugar ao Euro; podemos ir a Espanha ou a qualquer outro País do espaço Schengen composto maioritariamente por
países da união com total liberdade; a atividade económica, exportação e importação
de bens ou serviços, com estes nossos parceiros está muito facilitada num mercado
de mais de 400 milhões de habitantes. Muitas das mudanças sociais e culturais no nosso País nestes quase 40 anos teriam sucedido sem esta integração mas esse facto acelerou todo o processo.

Atualmente não concebemos a Europa sem a existência da UE e a sua implosão teria consequências imprevisíveis para o nosso País, que por certo seriam pouco agradáveis.
Quando foi assinado o nosso acordo de adesão tinha apenas 12 anos. Das poucas memórias de infância que tenho é a de colher em árvores de fruto de propriedade algumas vezes alheia, fruta diversa e muitas vezes comê-la passando-a apenas na t-shirt.

Quando a fruta eram ameixas ou cerejas o resultado final era pouco agradável mas o sabor compensava as dores de barriga subsequentes. Ao lanche, quando era em casa das Avós, a bebida era leite, xarope de groselha ou então uma deliciosa limonada, com limões apanhados e espremidos algumas vezes com as minhas próprias mãos. Os sumos e refrigerantes eram em muito menor variedade e só se podiam beber muito raramente.
Qualquer cidadão atento que circule pelas estradas do nosso concelho ou do nosso País, consegue identificar centenas de árvores de fruto, nespereiras, laranjeiras,
limoeiros, macieiras, entre outras, carregadas de fruta fresca e da época, que muitas vezes já nem para alimentar a criação animal é usada. Seja em quintais e terrenos abandonados ou junto a casas fechadas pela emigração, a fruta apodrece na sua Mãe sem que ninguém a consuma.
A minha reflexão nesta coluna é no sentido de tentarmos perceber enquanto sociedade e povo que futuro queremos para os nossos descendentes e que transformação foi esta que levou a considerarmos o desperdício de alimentos algo normal e aceite
por todos.
Por outro lado penso também no tipo de alimentos que se vendem e consomem nos nossos dias, embalados, pré-cozinhados, tudo em nome de um suposto conforto ou poupança de tempo, isto para já não falar de outros bens ditos essenciais.

Ao entrar em qualquer supermercado da nossa cidade, vivendo nós na província, metade das prateleiras lá existentes estão recheadas de inutilidades.
Em breve Portugal deixará de receber os milhões de fundos europeus que nos têm chegado e que muitas vezes são aplicados com pompa e circunstância em muitas
inutilidades.
Talvez seja o momento para que a sociedade ocidental no seu conjunto, do simples cidadão ao iminente decisor político, comece a gastar os seus recursos e o seu crescimento económico com um bocadinho mais de rigor, com menos desperdício e naquilo que realmente é essencial.
Já sabe, beba limonada e coma a fruta que por aí se cria.

Telmo Lopes
Presidente da CPC do CDS/PP Pombal