PRIMEIRO ESTRANHA-SE, DEPOIS ENTRANHA-SE | A Saúde não pode esperar

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A freguesia da Redinha está, há vários meses, sem médico de família. Esta situação não é, infelizmente, uma novidade no nosso concelho. A inacessibilidade aos Cuidados de Saúde Primários pela ausência de um ou mais membros da equipa que ali trabalha tem sido recorrente, ora nesta ora naquela freguesia.

A acessibilidade aos Cuidados de Saúde Primários é, de facto, um dos problemas mais prementes no concelho de Pombal. O modelo existente, assente nas extensões de saúde em todas as freguesias, tem sido incapaz de dar resposta às necessidades da população.

As equipas das extensões de saúde são compostas, geralmente, por um médico, um enfermeiro e um funcionário administrativo. Este modelo levanta diversos problemas.
Por um lado, a ausência de um dos profissionais (por motivos de férias, baixa médica, licença de parentalidade ou outros motivos) compromete fatalmente o atendimento dos cidadãos, pela incapacidade de intersubstituição.
Por outro lado, este modelo prejudica o desenvolvimento profissional daqueles que nele prestam serviço e, consequentemente, a qualidade dos cuidados. O trabalho em equipa potencia a aprendizagem e a troca de opiniões e de experiência, de uma forma que não é possível quando apenas existe um elemento de cada área profissional.
Não é, por isso, de estranhar que estas estruturas se revelem pouco atrativas para os profissionais, prejudicando a sua fixação, particularmente dos mais jovens.

As Unidades de Saúde Familiar (como a USF Marquês, USF São Martinho e USF Pombal Oeste) possuem equipas compostas por vários médicos, enfermeiros e administrativos, garantindo que, ainda que um ou vários possam não estar ao serviço, os cidadãos são atendidos.
Não por acaso, é nas áreas abrangidas por estas unidades que menos problemas têm existido no nosso concelho.
Uma estrutura deste género permite também uma melhor organização dos serviços, potenciando uma maior diferenciação dos cuidados prestados.

Além das vantagens já elencadas, as Unidades de Saúde Familiar modelo B (e as modelo C, nunca implementadas) são exemplos de um bom modelo de gestão na administração pública, com elevados níveis de autonomia, contratualização de objetivos e incentivos financeiros à Unidade e aos profissionais que nela prestam serviço, mediante o cumprimento desses objetivos.

O encerramento de serviços de proximidade causa sempre receios e alguma contestação popular. Certamente nos recordaremos do que aconteceu quando as escolas primárias que existiam um pouco por todas as aldeias foram substituídas pelos Centros Escolares. Hoje ninguém duvidará das mais-valias a nível pedagógico e das condições físicas.

Sempre que este tema é abordado, os partidos políticos em Pombal agitam espantalhos e invocam fantasmas de diminuição da acessibilidade aos serviços. Mas proximidade não é acessibilidade. Um serviço não é acessível se um cidadão nunca sabe se vai ou não ter acesso a ele. Um serviço é mais acessível, ainda que mais distante, se garantir o atendimento, com qualidade e estabilidade, a quem dele precisa.
Existirão certamente limitações ao acesso decorrentes da distância (ainda que tenham diminuído drasticamente nas últimas décadas, pela evolução social e pelo investimento em infraestruturas viárias), que devem ser colmatadas pelas autarquias (Município e Juntas de Freguesia).

Esta é uma reforma ambiciosa, mas urgente, que deve ser discutida sem preconceitos, sem demagogia e sem desinformação propositada, esclarecendo e envolvendo a população.
A Saúde não pode esperar.

Nuno Filipe Agostinho Carrasqueira
Enfermeiro | Porta-voz da Iniciativa Liberal Pombal

*Artigo de opinião publicado na edição impressa de 25 de Março