RENDALÍSSIMA | Parece simples

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Parece simples. Quase todas as meninas (e alguns meninos) brincaram aos crescidos, ao mesmo tempo que impiedosamente desarrumaram os armários das mães – vestindo os seus vestidos, calçando os seus sapatos de salto alto, pintando o rosto às escondidas com a maquilhagem em que era absolutamente proibido mexer. Ser stylist, para muitos, é um prolongar dessa brincadeira até à idade adulta, com o bónus de ser paga para isso. Um trabalho que não o é, uma diversão remunerada, um prazer sem espaço para cansaço.

Noutras edições desta rubrica, especifiquei características desta que é a minha principal ocupação, pelo que os mais atentos terão uma ideia mais séria e estruturada acerca do exercício da Consultoria de Imagem. Se se tratasse apenas de gosto pessoal ou de um apurado sentido estético, não seria preciso estudar nem obter certificações para que nos apresentássemos como profissionais. Sim, tem de existir uma queda especial, um jeito, um interesse pelo que nos cobre o corpo e pelas tendências que vão surgindo, mas essas características não são suficientes para que qualquer um esteja apto a levar a cabo um aconselhamento sério e personalizado – a particulares ou a empresas. O bom gosto não chega para realizar workshops com conteúdo útil, credível e direccionado aos funcionários do grupo empresarial a que nos dirigimos durante um bootcamp ou ao auditório de recém licenciados que sente necessidade de aprender um pouco mais acerca de como projectar uma imagem coerente com as suas ambições no mercado de trabalho. O bom gosto não chega para analisar um cliente, elaborar um estudo e executar um plano de construção de uma imagem renovada, de acordo com todas as condicionantes em jogo, tanto no que diz respeito a elementos internos como externos.

O estudo começou na primeira aula do curso de especialização nesta área e nunca mais terminou. Por aqui, vou dando dicas que possam ser utilizadas por cada um dos leitores. São truques ou ideias que partilho de uma forma generalizada porque apesar de vivermos num planeta em que a maioria das pessoas almeja ser igual aos outros (até os rostos e as maquilhagens aplicadas começam a ser assustadoramente idênticos), a realidade é que somos todos únicos. Por esse motivo, não poderei nunca criar conteúdos demasiado específicos ou aprofundados para preencher este espaço, até porque das duas regras mais importantes para a obtenção do sucesso, a primeira é nunca dar toda a informação.

Contem comigo para continuar a dizer-vos como utilizar certas tendências, que erros graves não cometer, de que artefactos podem fazer uso para criar interesse nos coordenados que escolhem para enfrentar o dia… quanto a directrizes concisas, formas inteligentes para rentabilizar o guarda-roupa, criação de cápsulas para que, por exemplo, a partir de 7 peças consigam formar 30 conjuntos diferentes, escolhas de cortes, tecidos e acessórios com base em noções de proporção para a harmonização do biótipo e valorização do tipo de rosto, selecção de paleta de cores a partir da análise de coloração de cabelo, olhos e tez, tudo isso fica para trabalhos em privado. É que só desse modo poderei fazer a análise e o estudo necessários para aplicar os meus conhecimentos a um caso único. Não é só o aspecto físico que pesa na balança, mas todo um conjunto de factores: o estilo de vida, os gostos pessoais, o meio em que se move, as actividades que privilegia, a vida social e profissional… entre tantos outros indicadores que levam a um produto final.

Uma vez esclarecido este ponto, creio finalmente ter respondido aos e-mails que recebi por parte de alguns leitores, solicitando orientações para ocasiões em concreto, do cabelo aos sapatos.

Houve, contudo, outros que me escreveram perguntando porque não publicava fotografias minhas, a título de exemplo, para melhor demonstrar as ideias que transmito. Confesso que me divertiram, mas é prioritário que se perceba a diferença entre aquilo que faço e a actividade de uma blogger, que partilha em várias plataformas digitais os looks que escolhe baseando-se apenas no seu gosto pessoal e que até pode dar opiniões mas que não teve qualquer tipo de formação em Consultoria de Imagem (claro que existem bloggers que também são stylists, não é a elas que me refiro). Além disso, tenho a certeza de que as imagens com que ilustro os meus textos cumprem bem a sua função, de forma simples e objectiva.

Este é um trabalho que levo a sério, ainda que com leveza. É uma profissão que merece todo o meu respeito e não me sentiria satisfeita nem tranquila se não deixasse bem clara a diferença entre esses dois papéis tão díspares e que, para já, não tenciono misturar.

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Depois de se dedicar ao Jornalismo, decidiu aprofundar os seus conhecimentos numa vertente menos explorada ao longo da sua formação académica, a comunicação não-verbal. Após uma especialização em Lisboa em Consultoria de Imagem, lançou-se a título pessoal na área da Moda e assume-se em 2018 como a primeira Fashion Therapist do país. Já foi contratada pelo grupo Sonae para realizar serviços de Personal Shopping aos seus clientes, marca presença na Vogue Fashion's Night Out, trabalhou no grupo Creative Concept como responsável pela gestão dos cursos leccionados e pelo departamento de Comunicação da Creative Academy e exerce funções enquanto Social Media Manager de eventos de Moda. Trabalha de perto com grandes marcas de luxo internacionais sediadas na Avenida da Liberdade e com designers portugueses vocacionados para noivas. Em Pombal tem uma parceria com a Quinta da Concha porque apesar de se mover na capital, tem especial gosto pelo trabalho com clientes da zona centro. Contactos: anarendalltomaz@gmail.com || https://www.anarendalltomaz.com/