Reinaldo Pereira eternizou em livro memórias de Moçambique

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Depois de uma vida inteira dedicada à justiça e aos tribunais, Reinaldo Pereira estreou-se na escrita. “Moçambique: Um olhar sobre o passado” é o seu primeiro livro. Nele, o autor recorda algumas memórias da sua vida em Moçambique, o país que o viu nascer e constituir família, mas que teve de deixar “com mágoa” em 1976. Passadas mais de quatro décadas, não esquece “o cheiro daquela terra, a beleza das paisagens, o clima quente e a simplicidade do povo”. Restam-lhe as “saudades e muitas memórias”, algumas delas agora eternizadas em livro.

O livro está à venda em Pombal, na Livraria Soares, e brevemente será apresentado na Fnac e em Pombal

Este “é um livro de memórias [vividas em Moçambique] desde a minha infância até à vida adulta”, explica Reinaldo Pereira, que recorda aquele como “um país maravilhoso”. E foi precisamente a sua “paixão por África, especialmente por Moçambique”, que o motivou a escrever as boas lembranças que guarda dos tempos ali vividos.
“O clima, as gentes, as paisagens e as praias, tudo é maravilhoso em Moçambique”, afirma, salientando que foi “a crescente insegurança” que o fez tomar a “difícil decisão” de vir para Portugal logo a seguir à independência de Moçambique. Veio, mas com uma promessa: “voltarei um dia”.
Chegou a Viseu, terra dos seus pais, como retornado, embora se sentisse mais um refugiado, que teve de abandonar o seu país para fugir da guerra civil. A adaptação em terras lusas não foi difícil, “porque tinha uma família grande que ajudou” nesse processo. Por outro lado, “em termos profissionais não tive nenhuma dificuldade, porque a justiça era exactamente igual”. Apesar de ter raízes em Viseu, permaneceu pouco tempo aí. À primeira oportunidade concorreu para Pombal, onde se fixou até aos dias de hoje.
Entretanto já cumpriu a promessa de voltar a Moçambique. A primeira vez foi em 2009 com o filho Ivan, o mesmo que o incentivou a escrever este livro. Na altura encontrou um país “muito diferente” daquele que deixou, tendo ficado desagradado com a “insegurança e, sobretudo, com a corrupção, que se nota imediatamente à chegada do aeroporto de Maputo”. Todavia, “é uma corrupção por necessidade”, adverte, constatando que “os ordenados são muito baixos e o povo vive numa absoluta miséria”. Ali “há apenas duas classes sociais: a alta e a muito baixa, o que é uma pena porque Moçambique é um país rico e tem um bom povo, o que não tem é dirigentes à altura”.
“Hoje Moçambique é independente, mas em condições humanas estão muito piores”, lamenta, evidenciando que “os indivíduos da minha altura têm agora alguma nostalgia pelos portugueses”. “Ao fim de 50 anos, chegaram à conclusão que os portugueses queriam ficar e ajudar a construir o país”.
Reinaldo Pereira, que em tempos chegou a defender a independência de Moçambique, viu “as coisas descambarem”, tanto que “o país regrediu muito e só agora é que está a recuperar”. Fugiu “com mágoa”, mas trouxe “Moçambique no coração” e “muitas recordações boas”. São essas que agora preenchem as 113 páginas do seu primeiro livro, que demorou quase um ano a escrever. A obra é repleta de fotografias, que ajudam a contar a história de Reinaldo Pereira por terras moçambicanas.
“Moçambique: Um olhar sobre o passado” já está à venda em Pombal, na Livraria Soares, e brevemente será apresentado na Fnac e em Pombal. E em Moçambique? “Se tiver oportunidade também gostava de apresentar lá o livro”, assegura o autor, que já está a escrever outra obra de memórias.

Carina Gonçalves | Jornalista

*Notícia publicada na edição impressa de 20 de Janeiro