Revelar a história de quase trezentos anos da Santa Casa da Misericórdia, foi um dos objectivos da Associação Amigos de Abiul ao aceitar o desafio do historiador pombalense Ricardo Pessa de Oliveira em traduzir para livro a vida e obra daquela instituição que funcionou, entre os anos de 1592 e 1870. A obra foi apresentada publicamente na tarde do passado dia 12 no Salão Paroquial de Abiul.

Segundo o autor, doutorado em História Moderna, a ideia surgiu na sequência da investigação que realizou para a edição de um livro idêntico sobre a Misericórdia de Pombal, face à documentação encontrada. No entanto, Ricardo Pessa de Oliveira realçou que, no caso de Abiul, tratou-se de uma “pequena Santa Casa, modesta que possuía um património e rendimento muito reduzido.” Talvez por isso é que, aquela que era “a Misericórdia mais pobre do distrito de Leiria” viria a ser extinta em 1870.

“No final da década de 1860, a Misericórdia de Abiul, uma das quatro existentes no concelho de Pombal, contava com menos de 20 irmãos, não admitia doentes na casa que servia de hospital, então já em avançado estado de ruína e evidenciava reduzida capacidade para socorrer os pobres da freguesia e os que transitavam pela mesma”.

“Era uma instituição pobre e caduca que não conseguia adaptar-se aos novos tempos”, refere, frisando que os mesários “pouco ou nada fizeram para evitar ou impugnar o alvará de 1869, documento que colocou termo a uma história de 278 anos”.

O historiador teve de recorrer a várias fontes, consultando diversos fundos arquivísticos do País. Um trabalho que, na opinião de Maria Antónia Lopes, professora da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, “não é para qualquer um” realçando a investigação realizada por Ricardo Pessa de Oliveira. Tanto, que no decorrer da apresentação da obra, a docente catedrática garantiu que “será de leitura obrigatória” para todos os seus alunos de mestrado e doutoramento que se dediquem ao estudo das misericórdias.

Ao longo de cerca de trezentas páginas, Ricardo Pessa de Oliveira aborda os vários factos históricos que revelam a importância da Misericórdia para Abiul, então sede de concelho. A obra está dividida em seis capítulos: Abiul e a sua Misericórdia; Os homens (irmãos, provedores, escrivães e mesários); Gestão financeira; Culto religioso; A acção assistencial; e, O fim da Misericórdia de Abiul.  Reúne, ainda, um “valioso apêndice documental” com a reprodução e transcrição de cerca de três dezenas de documentos relacionados com a Instituição.

Antes, Esmeraldo Cunha, presidente da Associação Amigos de Abiul, realçou a importância daquela obra para todos os abiulenses, sobretudo para as novas gerações, tendo enaltecido o facto de a proposta de Ricardo Pessa de Oliveira ter sido logo aceite. “Foi uma ideia que me entusiasmou”, disse, não só por ter raízes em Abiul, mas também, como revelou, o facto de o último provedor da antiga misericórdia, que embora eleito não chegou a tomar posse do cargo devido à extinção da instituição, ter sido Geraldo dos Reis e Cunha, seu bisavô.

No entender do dirigente, a obra “permitirá, por um lado, recuperar a memória” daquela “importante irmandade que, gozando de protecção régia, foi dirigida pelas elites locais e assumiu papel de relevo na assistência aos pobres, administrando o único hospital da vila e, por outro contribuir para um conhecimento mais profundo da história da vila de Abiul.”

Por outro lado, Esmeraldo Cunha enalteceu que a referida publicação só foi possível devido à “ajuda incondicional” da Fundação Dr. José Lourenço Júnior, Paróquia de Abiul, junta de freguesia, Câmara Municipal de Pombal e Caixa de Crédito Agrícola.

Também Sandra Barros e Diogo Mateus, presidentes da junta de freguesia e da câmara municipal, respectivamente, destacaram a importância daquela iniciativa para dar a conhecer a história e o significado de uma instituição para o povo de Abiul.

O edil enalteceu o trabalho desenvolvido por Ricardo Pessa de Oliveira para o “conhecimento profundo da história do nosso território”, dando conta que o historiador integra o grupo de investigadores que, sob a coordenação científica de José Eduardo Franco, irá pesquisar toda a documentação pombalina, dispersa por mais de 100 bibliotecas e arquivos em vários países, para depois escrever a “Obra Completa” do Marquês de Pombal, com o patrocínio do Município de Pombal.

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Ingressou no jornalismo, em 1989, como colaborador no extinto “Pombal Oeste” que foi pioneiro na modernização tecnológica. Em 1992 foi convidado a integrar a redacção de “O Correio de Pombal”, onde permaneceu até 2001, quando suspendeu a profissão para ser Director de Comunicação e Marketing de um grupo empresarial de dimensão ibérica. Em 2005 regressou ao jornalismo, onde continua, até aos dias de hoje, a aprender. Ao longo destes (largos) anos de actividade, atestados pelo Carteira Profissional obtida em 1996, passou por vários jornais, uns de âmbito regional e outros nacional, onde se inclui o “Jornal de Notícias” e “Público”. Foi convidado a colaborar, de forma regular, com o “Pombal Jornal” onde se produz conteúdos das pessoas para as pessoas. Foi convidado a colaborar, de forma regular, com o “Pombal Jornal”, quinzenário com o qual deixou de colaborar no final de Maio de 2020.