“A Marinha é mais do que uma profissão, é uma aventura”

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Ingressou na Marinha Portuguesa aos 18 anos por busca de uma aventura e de um novo desafio. A jovem pombalense que era fascinada por filmes de guerra, está há nove anos na Marinha onde para uma mulher é um desafio diário.

Noemie Freire (1)

Noémie Freire é uma das 837 mulheres que integram a Marinha Portuguesa. “Ser mulher na Marinha é um desafio todos os dias”, afirma a pombalense que, “fascinada por filmes de guerra”, ingressou na carreira militar aos 18 anos por gosto do mar e porque procurava aventura e um novo desafio. Já lá não nove anos. Hoje, afirma que “a Marinha é mais do que uma profissão, é uma aventura”.

Para Noémie Freire, o ingresso de mulheres na Marinha “revelou-se um desafio cultural e organizativo que provocou algumas alterações, a nível interno, tais como: alteração de uniformes, remodelação dos navios, alojamentos nas unidades em terra, adopção de cuidados de gestão que permitam o natural desenvolvimento das carreiras dos militares femininos em conformidade com os masculinos, entre outros”.

“A progressão na carreira, estabelecida na legislação aplicável, é absolutamente igual para militares masculinos e femininos, tendo ambos que frequentar as mesmas acções de formação e tirocínios de embarque”, refere, acrescentando que “a presença das mulheres na Marinha é assim um exemplo de um desafio superado”. “Penso que o baixo número de mulheres se deve mais ao preconceito do que pela falta de informação”, frisa.

A marinheira pombalense não tem dúvida de que a Marinha é uma oportunidade única para uma via profissional. E, explica: “a Marinha oferece uma carreira estável, com possibilidade de ascensão e formação contínua, em que se procura o desenvolvimento e enriquecimento humano, ao nível da experiência pessoal cultural. Tem um ensino de elevada qualidade, em que se associa a componente teórica á prática. É uma experiência enriquecedora e única.”

Às jovens que pretendam ingressar na Marinha, Noémie Freire considera que é uma “oportunidade de viajar pelo mundo, de conhecer e trabalhar com pessoas dos quatro cantos de Portugal” e, incentiva: “temos direito a alimentação, alojamento, assistência médica, apoio a obtenção de habilitações literárias, fardamento e sobretudo uma vida estável.”

Quanto a si própria, Noémie Freire considera que nunca pensou “adorar” o que faz. “Gostar-se daquilo que se faz é meio caminho andado para o sucesso”, salienta, adiantando que agora pode afirmar que é a sua “vocação” e não se arrependo de ter escolhido a Marinha como carreira.

Noémie Freire concorri para a Marinha em Novembro 2006 e iniciou a recruta em Janeiro 2007. Após a recruta de cinco semanas na Escola de Fuzileiros, em Vale de Zebro, foi para a Escola de Tecnologias Navais. Teve formação intensiva de nove meses para a especialidade de Operações, que “tem como função operar diversos sistemas destinados a condução da navegação, governo do navio, operar diversos sensores e equipamentos, nomeadamente radares de superfície e aéreos, o sonar e alguns sistemas de armas”, explica.

Após o curso foi destacada para o NRP Corte Real onde integrou o serviço de Navegação. “Este serviço é responsável pelos diversos equipamentos e instrumentos de navegação assim como pelas cartas e publicações náuticas”, refere, adiantando que durante aqueles cinco anos participou “em diversos exercícios no âmbito nacional e da NATO”. “Estes exercícios têm como finalidade treinar os navios para cenários reais de guerra”, frisa, realçando que já esteve duas vezes em operações de combate a pirataria no Golfo de Áden, em 2009 e em 2012. Também participou numa missão humanitária, quando ocorreram as cheias na ilha da Madeira em Fevereiro 2010. Em Março de 2013 foi destacada para o MRCC Lisboa (Maritime Rescue Coordination Center) onde prestou serviço durante três anos. “O Centro de Busca e Salvamento Marítimo é uma das unidades mais importantes na Marinha, em que a sua missão é ajudar a salvar vidas”, explica.

Segundo Noémie Freire, “Portugal tem uma vasta área marítima, cerca de 5.754.848 km2, equivalente a 62 vezes ao nosso território terrestre”, daí que seja “raro o dia que não haja uma ocorrência, desde evacuações médicas em alto-mar a incidentes em praias”. Realça que “em 2015 ocorreram 636 casos SAR e foram salvas 501 vidas”. “É gratificante ter contribuído para salvar estas vidas”, sublinha a marinheira que desde Fevereiro deste ano faz parte da guarnição do NRP Bartolomeu Dias onde desempenha funções de operador de sistemas de informação de combate.

Noémie Freire conta como é o seu dia-a-dia com alguma ironia: “todos os dias troco os saltos altos pelas botas, às vezes até ao fim-de-semana e feriados, quando estou escalada de serviço.” “O fundamento dos serviços a bordo dos navios é a prevenção de incidentes, como por exemplo um incêndio ou um alagamento”, diz, acrescentando que “nos dias que não estou de serviço, desempenho as minhas funções normais.” “Existe um treino contínuo”, frisa, referindo que “um navio requer manutenção e prontidão em todos os departamentos: de operações (do qual faço parte), de propulsão e energia, de armas e electrónica, de logística e de serviços gerais, porque a qualquer momento pode ser empenhado uma missão.”

Orlando Cardoso