Veterinarices

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Carlos Tomaz

Veterinários, médicos ou adivinhos? Foi a questão que me foi proposta como tema para uma palestra há pouco tempo atrás. Aceitei, algo divertido pelo assunto e deveras agradado pela deferência.
A fina inteligência e atenção do convite revelam-se pela ironia e na similitude de situações que as profissões tão diferentes do anfitrião (homem de leis) e do convidado (eu, homem de ciências aplicadas) têm nas suas vidas profissionais. Ambos muitas vezes abordados para conselhos ou soluções imediatas sem sabermos nada do que se passa por detrás da pergunta.
É tão frequente ser-se questionado por detentores de animais, que descrevem o que crêem ser os mais específicos sintomas ou sinais de doenças bem claros e esclarecedores e me pedem para receitar remédio maravilhoso que acabe com a maleita, que se torna pertinente comentar se nós veterinários somos meio adivinhos, meio médicos ou o quê? Definitivamente somos adivinhos!
Nós impomos as mãos sobre o bicharoco, “ligamos” a nossa especial percepção extra-sensorial, concentramo-nos… e zás! Sabemos o que se passa de anormal. Os mais dotados, afinados e experientes, só por estar perto do dono ou pela sua voz conseguem fazer a proeza.
Claro que tentamos disfarçar estes poderes com exames atentos, inspeccionando, apalpando, sentindo, auscultando, realizando exames complementares, como radiografias, eletrocardiogramas, ecografias, análises a urina e até ao sangue. Como se esse folclore todo fosse necessário! Nem os quase 20 anos de estudos até se ser licenciado. Tudo tretas! Nós, veterinários, somos todos adivinhos. Podem continuar a telefonar e a perguntar tudo o que quiserem acerca dos vossos bichos sem nós os olharmos sequer, poupam os preciosos euritos, o (ainda mais precioso) vosso tempo e terão a resposta acertada e competente. A solução e a panaceia ser-vos-á oferecida.
Ah! E já agora não o façam a horas normais de se estar activo: esperem pela noite, que os feiticeiros veterinários podem e devem desprezar família, repouso, refeições, para aliviar à distância os problemas.
Foi à laia de desabafo, eu não sou simpático…
Bem hajam e até breve.