A sucessão que seguiu um caminho natural na Carlos Baptista, Lda.

0
3997

Desde a meninice que Marianella e Francisco acompanham de perto o negócio da família. A ligação à Carlos Baptista, Lda., empresa adquirida pelo pai, Francisco Sousa, em 1982, juntamente com dois sócios, foi palco de brincadeiras mas sobretudo de muitas aprendizagens. Era ali que passavam boa parte das férias, criando uma ligação à empresa que haveria de perdurar.

Francisco Sousa e Fernanda Caramonete ladeados pelos dois filhos mais velhos, Francisco e Marianella Santos

Com a dissolução da sociedade, por volta do ano 2003, Francisco Sousa assume a liderança, partilhada, a partir dessa altura, com Fernanda Caramonete, a mulher. A eles juntaram-se, também, os dois filhos mais velhos, Francisco e Marianella (Rita, a mais nova, é a única que não trabalha no negócio da família).
“Se já tenho a bicicleta, é só andar nela”, conta Francisco Santos (filho), acerca daquilo que considera ter sido uma escolha quase inevitável, perante a ligação que foi criando ao negócio, ainda que os pais nunca o tenham influenciado nessa opção. Aos 18 anos, quando terminou a formação profissional, na ETAP, Francisco sabia exactamente o que queria. O mundo do trabalho não lhe era desconhecido e tinha a sorte de ter crescido num ambiente que lhe abriu os horizontes sobre o caminho a seguir. Nunca se imaginou a fazer outra coisa e não esconde o imenso prazer que tem no contacto com o público. Já a “legislação e os papéis são mais para mim”, revela a irmã.
À pergunta se alguma vez se arrependeu dessa opção, Francisco responde com a mesma boa-disposição que manteve ao longo de toda a conversa: “Tem dias!”, para, logo de seguida, soltar uma gargalhada. “Nunca me arrependi nem vou arrepender de estar aqui a trabalhar”, faz questão de frisar.
Marianella, a irmã, segue o mesmo espírito. Diz nunca se ter sentido obrigada a trabalhar na empresa da família, mas acredita que isso acabou por ser inevitável, até porque, ainda enquanto estudante, mesmo do ensino superior, já ali trabalhava. Se o negócio da família não existisse, provavelmente teria seguido um caminho profissional ligado às engenharias ou arquitectura e deixado de parte a opção pela gestão de empresas.
Admite que nem sempre é fácil trabalhar com a família, porque a mistura entre o lado pessoal e profissional acaba por se confundir, mas tudo é ultrapassável. “Nós somos todos um bocadinho impulsivos. Gritamos uns com os outros, mas passa e não ficam ressentimentos”, conta Marianella, enquanto o resto do clã vai soltando gargalhadas sobre alguns episódios do dia-a-dia.

A inevitável sucessão
A trabalhar desde os 17 anos, Francisco Sousa (pai) surpreendeu a família quando anunciou que se iria reformar e retirar da empresa. “O meu pai trabalhava desde os 17 anos – e duro – e quando chegou aos 65, ao contrário do que muita gente pensava, tomou a opção de sair”, conta Marianella. Uma decisão que a filha do empresário diz ter sido positiva. “Começámos a ter que tomar iniciativas que, se ele estivesse cá, lhe iríamos perguntar sempre, embora nos assuntos importantes decida sempre connosco”.
Francisco Sousa e a mulher (Fernanda ainda está a trabalhar na empresa) continuam a ser os sócios-gerentes, mas o comando está agora nas mãos dos filhos. O casal mostra-se orgulhoso pela capacidade demonstrada pelos filhos para lhes suceder e pelos alicerces que construíram. “Nós aqui não somos o patrão e empregados. Somos uma família”, afirma Francisco (filho). Dos 10 colaboradores, quatro são da família.
Aos 77 anos, o tempo livre de Francisco Sousa é agora dedicado à agricultura, em jeito de regresso ao passado, não tivesse ele crescido no campo. “A vida não foi fácil e a minha universidade foi a agricultura”, recorda. Do muito que cultiva, distribui pelos conhecidos e amigos, numa tarefa assumida sobretudo pela mulher, que fala sobre o assunto no habitual registo de boa-disposição que lhe é conhecido. “Planta batatas para Pombal inteiro” (risos), diz Fernanda Caramonete, ao que o marido acrescenta: “Sinto-me satisfeito por ter para dar”.
As visitas à empresa são agora escassas e só quando necessárias.

*Notícia publicada na Edição nº 203, inserida no DESTAQUE sobre as PME Líder 2020