OPINIÃO | O início do ano letivo já arrancou!

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Voltamos às rotinas antigas criadas na época da revolução industrial. Criamos adultos em sala de aula, fechados, obrigados a estar sentados por tempo infinito. Para um adulto, o limite máximo de atenção é de 40 minutos! Sim! Para uma criança é tempo infinito! Para que todos aprendam, mesmo que à força, a cumprir, a estar em linha, sem pensamento crítico nem direito a ser diferente. Isso dá muito mais trabalho a quem dirige. E a responsabilidade não reside no professor. A responsabilidade está nas diretrizes obsoletas que dão também muito trabalho a atualizar. E como só lá “estamos” garantidos 4 anos no máximo, deixemos esse novelo para as próximas legislativas! E assim continuamos há 50 anos, mais coisa menos coisa.
E é por isso que venho falar do stress da avaliação.
Vejamos o exemplo do Japão onde nos primeiros anos o foco está no desenvolvimento da personalidade, nas competências sociais e inteligência emocional. Só aos 10 anos é que começam a ser realizadas as provas formais. O conhecimento académico tem protagonismo já a criança tem disciplina, desenvolvimento emocional e social, que alicerceia o caminho para a jornada académica. A prioridade é ensinar o respeito pela natureza e pelo outro, empatia e autorregulação.

Na Finlândia, os testes padronizados começam aos 16 anos, dando prioridade ao brincar livre, a menos horas de escola e, onde o professor é um guia que passa mais o seu tempo como observador não participante e mediador, ajudando a criança a pensar por si.
Nas Jornadas de Educação de Pombal 2025, o meu querido professor David Rodrigues, conselheiro nacional de educação, falou do currículo e da possibilidade de autonomia do currículo, onde refere a importância da vontade da criança em escolher e decidir o que quer aprender, fazer parte desta decisão. Onde o professor deve sim enquadrar civicamente o mundo, mas de uma forma mais ligeira e sem o 11ºMandamento: “Cumprirás o currículo até ao fim”.
O Dr Gabor Mate, médico com especial interesse na saúde familiar, desenvolvimento infantil e trauma (ele próprio vítima do holocausto), fala-nos do stress da avaliação de uma forma muito pragmática e sob o ponto de vista da psicologia evolutiva. Refere que testes feitos em adultos, mesmo que sabendo que são apenas testes experimentais e que não interferem em nada na sua carreira, ficam durante vários dias com os níveis hormonais de stress elevados. Assim, também as crianças sentem a mesma tensão e os mesmos níveis de stress hormonal. Por sua vez, o seu desenvolvimento será condicionado sob stress, obrigação de cumprir, de ser, de estar, de fazer, de atingir metas curriculares e posturais que serão mesmo relevantes para o seu futuro? Temos circuitos de reprodução cerebrais que estão programados para se desenvolver pela exploração, pelo brincar livre. Refere ainda exemplos de animais na natureza, como gatos, tigres, ursos, elefantes e tantos outros, que em fase de crias, brincam livremente, explorando, desenvolvendo a espontaneidade e a curiosidade inata de querer saber sobre história, sobre ciência, sobre matemática e, preparando-os para a fase adulta.
Compreendo que o caminho pode ser longo, que não depende apenas do professor nem do diretor do agrupamento, mas se todos formos mostrando este enorme combustível de má saúde mental em fase adulta, de forma ativa, pró-ativa, se formos mais a falar sobre isto, a querer que mude, pode ser que alguém se digne a preparar uma verdadeira reforma educativa, atualizada, com vista a estar em vigor em, 10 anos? Vamos lutar para que não se acabe com a infância por favor?

Fonte da imagem: https://renataendocrino.com.br/artigos

Autoria do artigo:
Joana Mendes
(Psicomotricista APP 1078)