Adeus e até logo!

0
1585

Já consigo vislumbrar, embora a custo, a meta deste ano de intenso trabalho. As férias espreitam, ainda tímidas, a linha do horizonte. Enchem-na do colorido próprio do verão. É o prenúncio de um merecido tempo de descanso. Agora que as aulas terminaram e as vozes frescas e joviais dos alunos só povoam os corredores nos escassos e nervosos minutos que antecedem a campainha que marca o início de mais um exame, a chave do silêncio vai abrindo as portas da memória e surgem, filtradas pela luz limpa do tempo, imagens de empenho, trabalho, alegria e criatividade. Agora que os meus dias se enchem da tinta vermelha com que corrijo exames e das grelhas repletas de números, quando faço pausas, sento os meus olhos em poemas de Pessoa e de Sophia. Sentam-se neles como se estivessem num banco de jardim e descansam dos erros e dos números.
A 13 de Junho, se estivesse vivo fisicamente, Fernando Pessoa teria apagado 126 velas. Direi que, atendendo à intemporalidade da sua obra, lhe cantamos os parabéns e comemos uma fatia do seu bolo de aniversário, cada vez que lemos os seus textos e os saboreamos. Essa é a melhor comemoração possível para o génio criador de quem nos legou versos que se configuram como fatias de sabedoria (por exemplo, “Ser descontente é ser homem.”).
Também para Sophia de Mello Breyner se aproxima uma data marcante (2 de julho): o décimo aniversário da sua morte. Assim, a escritora, cujos restos mortais serão, brevemente transladados para o Panteão Nacional, será homenageada na Casa da Música, no ciclo “Porto de Encontro”, estando o tributo agendado para 25 de Junho, às 21h30. No final da cerimónia, em tom de celebração de 84 anos de partilha da genialidade de Sophia de Mello Breyner, o Maestro António Vitorino de Almeida interpreta alguns dos compositores favoritos da poetisa.
Curiosamente, e continuando no registo das efemérides que marcam os dias anteriores e posteriores a esta crónica, a 14 de Junho de 1928 nascia Ernesto Guevara de la Serna, conhecido como “Che” Guevara (político, jornalista, escritor e médico argentino-cubano; um dos ideólogos e comandantes que lideraram a Revolução Cubana), a quem Sophia dedicou este poema imortal:
“Contra ti se ergueu a prudência dos inteligentes e o arrojo
[dos patetas
A indecisão dos complicados e o primarismo
Daqueles que confundem revolução com desforra
De poster em poster a tua imagem paira na sociedade de
[consumo
Como o Cristo em sangue paira no alheamento ordenado das
[igrejas

Porém
Em frente do teu rosto
Medita o adolescente à noite no seu quarto
Quando procura emergir de um mundo que apodrece “
Dedico este poema, especialmente, a todos os alunos, colegas professores e funcionários com quem tive o privilégio de trabalhar até hoje. Adeus e até logo!

Graciosa Gonçalves, Professora
graciosa.goncalves@sapo.pt

Partilhar
Artigo anteriorSilly Season
Próximo artigoO Soldadinho