QUELQUES MOTS… | Já Chega!

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As últimas eleições municipais em Pombal deixaram um sinal preocupante: a eleição de um vereador do CHEGA. Mais do que um resultado político, é um espelho de um mal-estar social que o partido soube explorar com mestria, ainda que à custa da verdade, da coerência e do respeito pela nossa história democrática.

As últimas eleições municipais em Pombal deixaram um sinal preocupante: a eleição de um vereador do CHEGA.

O líder do CHEGA, André Ventura, criou o partido por puro protagonismo. Não encontrou espaço no PSD, e hoje percebe-se porquê: faltava-lhe humildade, espírito de equipa e visão de Estado. Mas Ventura soube estudar o que o tornaria relevante. Estudou técnicas de marketing político, construiu um personagem e vendeu o seu produto: o próprio CHEGA, como se fosse um espetáculo. E, nisso, é de facto muito bom. Consegue transformar frustrações legítimas em combustível político, embalando o descontentamento popular em frases simples, raivosas e sedutoras.
O problema é que por trás dessa embalagem não há substância. O CHEGA fala de justiça, mas está repleto de contradições e casos de militantes e candidatos com problemas judiciais. Fala de verdade, mas vive de meias-verdades, generalizações e mentiras fabricadas nas redes sociais. Fala de moral e de valores, mas pratica o oposto: divide, acusa e julga sem provas.
Na economia, o discurso é uma sucessão de promessas impossíveis. Falam em baixar impostos, aumentar salários e resolver tudo “com coragem”, mas sem qualquer plano concreto. Governar não é berrar “chega!”; é compreender o equilíbrio delicado entre contas públicas, políticas sociais e responsabilidade fiscal. E esse equilíbrio, o CHEGA nunca o quis entender.

Governar não é berrar “chega!”

O mais preocupante é o modo como o partido manipula emoções. Apresenta-se como “a voz do povo”, mas fala em nome do ressentimento. Cria inimigos, imigrantes, ciganos, professores, funcionários públicos, etc… e culpa-os por todos os males do país. Essa estratégia é antiga e perigosa: é a mesma usada por regimes que começaram por prometer “ordem” e acabaram por destruir liberdades.
Não podemos ignorar a história. Portugal vem de uma ditadura. Foram décadas de censura, medo e silêncio. Só quem não a viveu, ou não a estudou, é que pode querer o seu regresso, ainda que disfarçado sob o populismo e as frases fáceis. O CHEGA brinca com esse fogo, e há quem, sem perceber, o alimente.

Portugal vem de uma ditadura. Foram décadas de censura, medo e silêncio. Só quem não a viveu, ou não a estudou, é que pode querer o seu regresso, ainda que disfarçado sob o populismo e as frases fáceis.

Em Pombal, a eleição de um vereador deste partido deve servir de alerta. Não é um sinal de mudança positiva, mas de desorientação e descrença. O verdadeiro desafio não é “acabar com o sistema”, como o CHEGA gosta de repetir; é melhorá-lo, com ética, empatia e trabalho sério.
Portugal precisa de líderes que construam, não de vendedores de ilusões. De políticas que unam, não que alimentem o ódio. E de cidadãos que pensem antes de aplaudir quem grita mais alto. A democracia não é perfeita, mas é o bem mais precioso que conquistámos. E defendê-la passa, também, por recusar o engano dos que prometem tudo, culpando sempre os outros.

Em Pombal, a eleição de um vereador deste partido deve servir de alerta. Não é um sinal de mudança positiva, mas de desorientação e descrença.


Kari Guergous