Na sequência do aumento de pedidos para prospecção e pesquisa de caulinos no concelho, o Município de Pombal elaborou um Plano de Acção que foi aprovado, tanto em reunião do executivo como em Assembleia Municipal. É esse plano que, nos últimos dias, tem sido apresentado às populações das freguesias onde têm estado a surgir estes pedidos. Uma dessas sessões realizou-se na Associação dos Bernardos e Boavista, na freguesia da Redinha, no passado dia 14 de Janeiro.
Perante um salão cheio, coube ao presidente da junta de freguesia a primeira intervenção. Paulo Duarte disse que “não há prospecção nem pesquisa se ninguém vender os seus terrenos”. Pedro Pimpão, presidente da câmara, falou em seguida para garantir que o Município deu parecer desfavorável a todos os pedidos que estão em análise e que, no seu entendimento, não vai haver prospecção e pesquisa. “Se houver é contra a nossa vontade, mas julgo que isso não vai acontecer”, afirmou. Coube depois à vereadora Isabel Marto apresentar o plano de acção do Município que, além de dar parecer desfavorável a todos os pedidos enquanto decorrer o processo da 2º Revisão do PDM, quer propor à Assembleia da República algumas alterações à lei, de forma a que as autarquias tenham mais liberdade para dizer não a este tipo de explorações. O Município quer também um aumento de exigência, com a garantia de que as empresas que já laboram no território, recuperem as áreas exploradas antes de avançarem para outra área.
Populares unânimes na contestação
Aberto o período para as intervenções do público, cedo se percebeu que os presentes estão em sintonia na contestação a estes pedidos de prospecção. A isto não é alheio o facto de já existirem explorações naquela freguesia que, nas últimas décadas, têm trazido inúmeros prejuízos às populações, conforme referiram vários populares. “Cortam acessos, abrem valas com água a escorrer para os nossos terrenos, cortam serventias”, foram algumas das queixas que se ouviram, com pedidos para uma maior fiscalização às empresas. Outra preocupação levantada foi para o facto de muitos terrenos nas imediações terem sido adquiridos por pessoas de outras zonas do concelho “que se estão a marimbar para nós”.
No salão da colectividade dos Bernardos estiveram presentes, na grande maioria, pessoas da freguesia da Redinha. Mas havia também populares de outros pontos do concelho e mesmo de concelhos vizinhos. Foi o caso de uma mulher que lembrou a luta mantida há uns anos no concelho de Soure contra a exploração de caulinos. Pediu que as populações se unam contra este tipo de actividade, registando que juntos “podemos ser mais fortes”. Outra intervenção veio de Gustavo Medeiros, do Grupo Protecção Sicó, que aproveitando a vontade manifestada pelo Município para criar comissões de acompanhamento, sugeriu que ali se formasse um grupo para dar o primeiro passo na criação dessa comissão. Sugestão bastante aplaudida pelos presentes.
Abaixo-assinado
Dulcídio Carvalho, presidente da Associação dos Bernardos e Boavista, foi uma das vozes que mais se fez ouvir. É ele o autor de um abaixo-assinado que, nas últimas semanas, começou a circular na freguesia. O que tem constatado é que a esmagadora maioria das pessoas “não tem noção do que se está a passar”. Diz que “houve uma petição feita na internet, mas a população mais idosa não tem facebook e são eles os maiores proprietários dos terrenos”. Ao constatar que a população não tinha “a mínima ideia do que se estava a passar”, Dulcidio Carvalho iniciou um movimento para informar a população. Na sessão, mostrou receio de que alguns proprietários vendam os seus terrenos às empresas que fazem actividade extractiva. Ao jornal, disse saber que houve pessoas que adquiriram terrenos há alguns anos, na esperança de os vender a preços melhores à Sorgila que tem um barreiro junto ao lugar, mas como a exploração não avançou para os terrenos deles, esperam agora conseguir lucrar.
À saída, perguntámos a três mulheres se tinham ficado mais descansadas depois de assistirem à sessão de esclarecimento. Todas disseram que não. “Só ficamos descansadas quando ficar preto no branco que não vai haver mais nada”. Relembram que, há 20 anos, manifestaram-se contra a exploração e “conseguimos, com a empresa, que ficasse obrigatório eles não circularem na nossa estrada, que tinham que tapar todos os buracos e que tinham que reflorestar. Alguma coisa foi feita?”, questionam. É também, e sobretudo por isso, que a luta não vai parar.
*Notícia publicada na edição impressa de 23 de Janeiro