“Não somos uma empresa grande, mas temos um nome no mercado que toda a gente conhece”

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António Martins “era ainda um menino”, como o próprio diz, quando fundou a Sicocalhas, dedicada ao fabrico e instalação de caleiras. Tinha, à época, apenas 18 anos, mas “já vendia caleiras há dois”, nas horas vagas, depois de sair da empresa onde trabalhava, em Pombal. “Foi o único patrão que tive na minha vida”, recorda.
“O meu primeiro cliente foi o meu irmão mais velho”, recorda o empresário, durante o almoço comemorativo dos 50 anos da Sicocalhas, que decorreu no sábado, dia 23 de Novembro, no Barrocal, e que juntou clientes, família e amigos.

Nascido na aldeia de Casal Novo (junto ao Barrocal), no seio de “uma família muito pobre” que vivia daquilo que a terra dava, António Martins traz à memória esses tempos difíceis, em que “não havia muito para pôr na mesa”, nomeadamente nos anos em que não chovia, porque “as coisas não se criavam”. O mais novo dos cinco irmãos percebeu cedo que era preciso “dar um salto em frente” e “fazer mais qualquer coisa”.
Descobriu a vocação nas caleiras, muito por ‘culpa’ daquele que foi o seu “mestre”. Um “grande artista”, como lhe chama, que não media nem desenhava. “Media com os olhos e cortava com a tesoura, guiado pelos olhos“, descreve. Foi nessa empresa que aprendeu a moldar a chapa e a sentir o fascínio pela actividade.
Com as bases do ofício, criou então a própria empresa. Ainda solteiro, contou com a ajuda imprescindível daquela que viria a ser sua esposa. “Durante dois anos, ajudou-me a moldar as calhas”, relata António Martins.
O casamento trouxe novas dinâmicas, mas o casal manteve-se junto, ao leme da empresa. “Continuou a trabalhar comigo até aos dias de hoje”, inicialmente só na oficina, enquanto o marido fazia a montagem das caleiras. “A subir e descer escadas, no dias de calor e de Inverno, sempre só os dois”, durante 20 anos. António Martins destaca o lado positivo deste trabalho conjunto, mas reconhece que, mesmo não estando em funções, “acabamos por viver sempre os problemas do trabalho”.
Só a entrada do filho mais velho na empresa veio alterar um pouco as rotinas. “O André começou a gostar muito cedo desta arte”, pelo que a sua entrada no negócio da família seguiu um caminho natural. “Será ele o futuro dono da empresa”, conta António Martins, uma vez que o irmão – Martinho Martins – tem outras prioridades profissionais, enquanto investigador na Universidade de Aveiro.
Ao casal e ao filho juntam-se actualmente dois colaboradores, formando uma equipa de cinco pessoas que procura dar resposta a um mercado “que chega mais longe do que aquilo que eu desejava”, devido às dificuldades com as deslocações, explica António Martins. Só na região do Algarve, a Sicocalhas trabalha “há mais de 30 anos”, mas os clientes estão espalhados por vários pontos do país.
“Temos trabalho para o dobro das pessoas”, mas o empresário não abre mão de uma série de requisitos, que fizeram da empresa uma referência no seu sector. Para isso, prefere não alargar a equipa, ciente de que “quando a nossa casa tiver muita gente, a qualidade e a pontualidade não serão a mesma coisa”.
António Martins continua a assumir a gerência, juntamente com a esposa, mas deixou de lado a montagem das caleiras, por questões de saúde e de idade. Assume as tarefas ligadas aos orçamentos e às compras, apoia a equipa em tudo o que precisa, mas reconhece que a parte das obras está bem assegurada pelo filho, “muito exímio naquilo que faz”.
“Cada vez temos mais clientes”, realça António Martins, por entender que “quando se trabalha bem, quando se gosta daquilo que se faz, se promete e não se falha”, o resultado só pode ser esse.
Na festa dos 50 anos, António Martins mostra-se um homem feliz pelo percurso da empresa. “Não foi fácil chegar aqui, no meio de tantos altos e baixos, mas hoje eu sou, de todos, o mais feliz, porque olho para trás e vejo que o esforço compensou. Não somos uma empresa grande, mas somos uma empresa que tem um nome no mercado e que toda a gente conhece nesta área”, afirma.
No balanço deste percurso, para além de não esquecer a confiança depositada pelos clientes, António Martins, de 68 anos, faz questão de valorizar a vertente familiar, um alicerce fundamental deste sucesso, com palavras dedicadas, de forma particular, à esposa. “Uma mulher espectacular, que toda a vida deu muito de si a esta empresa, que não seria a mesma coisa sem ela. Além disso, é esposa, mãe, avó e também avó-mãe”. O casal tem dois filhos e quatro netos.

*Notícia publicada na edição impressa de 28 de Novembro

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