O evento tem um cariz comunitário e diferenciador, o que faz dele uma referência na região. As favas são cultivadas por pequenos agricultores locais, mas para quem não aprecia a leguminosa há também galos caseiros, criados com a ajuda das crianças do centro escolar, onde está instalado um galinheiro. Haverá petiscos todas as tardes.

Por estes dias, a fava faz-se à mesa dos apreciadores. Dita o calendário agrícola que os meses de Abril e Maio são tempo de apanha e consumo daquela que é a segunda leguminosa mais rica em fibras. Em 2018, a Junta de Freguesia de Meirinhas percebeu que, mais do que enaltecer a riqueza nutricional da fava, era preciso valorizar esta tradição gastronómica e, ao mesmo tempo, dinamizar a economia local. Desde então, o segundo fim-de-semana deste mês é sinónimo de um festival inteiramente dedicado a este ícone da cozinha tradicional. O evento cresceu e consolidou-se, de tal forma que é hoje uma referência na região, assente em três pilares: comunitário, diferenciador e sustentável.
E é desta forma que o Festival da Fava se apresenta para mais uma edição, que arranca já esta quinta-feira (8) e se prolonga até domingo, este ano com mais um dia na programação. Organizado pela Junta de Freguesia de Meirinhas e pelas associações locais, o certame espera atrair milhares de pessoas, movidas pela vontade de degustar um dos muitos pratos que hão-de chegar à mesa, mas também pela animação e expositores. E mesmo que o tempo não esteja convidativo, não há razões para faltar, porque todas as dinâmicas do evento decorrem em recinto coberto.
“O Festival da Fava é um festival comunitário e participativo, em que a própria comunidade é que faz o festival, desde a plantação das favas até à apanha”, explica o presidente da Junta de Freguesia. Este ano, foram apanhados 1200 quilos de favas, semeadas por gente da terra, concretizando assim um dos objectivos do evento: dinamizar a economia local, uma vez que são vendidas à Junta de Freguesia.
E se sementeira e apanha foram feitas a muitas mãos, por pequenos agricultores, o mesmo se poderá dizer da debulha. Entre voluntários (jovens e menos jovens), crianças do centro escolar (altura em que as professoras falam da importância de uma alimentação equilibrada) e idosos do Lar da Felicidade (que assim recordam os seus tempos antigos), todas as ajudas foram bem-vindas. Uma imensa moldura humana, de diferentes idades, o que leva João Pimpão a destaca o cariz “intergeracional” que também molda este evento.
“O Festival da Fava é das Meirinhas e todas as associações colaboram como parte activa”, reforça o autarca, destacando ainda “esta capacidade que Meirinhas tem de trabalhar, em conjunto, para o mesmo fim”. Nesta medida, “é um grande exemplo que a comunidade dá a esta região”.
O serviço de cozinha será, uma vez mais, assegurado pelo Lar da Felicidade, mas “todas as associações trabalham em conjunto e em complementaridade”, nota João Pimpão.
Galos criados pelos alunos
As favas com entrecosto, enchidos e ovo escalfado são a estrela do cardápio, mas há outros pratos que prometem conquistar o palato, como o carneiro com favas, bacalhau com favas ou o galo guisado com favas. Desengane-se, no entanto, quem acha que não tem lugar à mesa por não gostar do principal ingrediente, até porque a alternativa tem, este ano, um sabor especial: galo caseiro (sem favas), mas com a particularidade de os animais terem sido criados pelos alunos do centro escolar, onde está instalado um galinheiro comunitário.
Nos últimos meses, os galos foram alimentados com os restos da comida servida na cantina, numa lógica de “aproveitamento” dos recursos, explica o presidente da Junta. Com esta iniciativa, “conseguimos incrementar aqui uma nova capacidade e uma forma de tornar este festival cada vez mais sustentável”, afirma.
Programa de quatro dias
A “abertura do barril” acontece hoje às 18h00 e marca o início da programação. “É uma forma de começar a aquecer os motores”, afirma João Pimpão, em tom de brincadeira. Na tenda da fava há oferta de petiscos e tapas, mas também música com os Tempanálise Sound.
Na sexta (9), e tal como aconteceu na edição de 2023, já se servem almoços. “Na avaliação que fizemos ao festival, reparámos que o almoço de sexta- feira é uma altura espectacular, para quem trabalha nas Meirinhas e não é daqui, de poder vir almoçar e conviver com os seus colegas de trabalho”, conta o presidente da Junta.
Depois, e até domingo, há sempre petiscos à tarde e serviço de almoços e jantares (domingo não são servidos jantares). No que toca à música, na sexta-feira há baile com Graciano Ricardo e no sábado com Xico à Portuguesa, um projecto musical liderado por Fernando Graça, das Meirinhas, e que reforça a aposta da organização na prata da casa. Para quem quiser prolongar a noite na tenda, há música com a DJ Patrícia & Los Muchachos. O Grupo de Concertinas Marquês de Pombal e o Grupo de Concertinas Carlos Barbosa animam o recinto no sábado e domingo e para a tarde do último dia fica reservada a actuação de Ruizinho de Penacova.
Para lá da música, há desfile de confrarias convidadas no final da manhã de sábado, dia em que há também ginástica sénior (15h00) e a transmissão do jogo entre o Benfica e o Sporting (18h00), em ecrã gigante, enquanto saboreia um petisco. “Achámos interessante o festival mandar um dos clubes à fava”, ironiza João Pimpão, Benfiquista assumido, entre risos.
E depois de três dias de bem comer, é tempo de mexer o corpo e, para isso, nada melhor do que a caminhada da fava, no domingo, a partir das 09h30.
E se vem acompanhado de crianças, o evento conta também com o Espaço Favolas, com inúmeras brincadeiras para os mais pequenos, sob a supervisão de monitores, para que os pais desfrutem do festival sem preocupações.

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O certame é organizado pela Junta em conjunto com a Associação Lar da Felicidade, APA Associação de Pais e Educadores de Meirinhas, Associação Recreativa de Meirinhas e Grupo Sócio-Caritativo de Meirinhas. As receitas revertem a favor deste tecido associativo.
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O festival conta com uma zona de exposição e venda comercial dedicada a pequenos artesãos e pequenos negócios de Meirinhas, bem como espaços para o reviver da tradição de debulhar a fava e várias animações e apontamentos culturais.
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Nesta edição há petiscaria aberta todas as tardes. Os individuais das mesas terão uma imagem alusiva a Eça de Queirós, apreciador de favas. No dia da trasladação para o Panteão Nacional, no banquete oficial, foi servido Arroz de Favas (Favas de Tormes), que fazia as delícias do escritor, e que este ano será também servido no festival. Estas favas, em concreto, vieram de perto da Quinta de Tormes, em Santa Cruz do Douro.
*Artigo publicado na edição impressa de 8 de Maio