“A actual gestão está bastante aquém do que seria desejável”

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Amílcar Barros Malho, 51 anos, é natural da freguesia de Abiul e reside em Lisboa. O economista surpreendeu, em Abril, quando anunciou uma candidatura independente à Câmara de Pombal nas eleições de 1 de Outubro. Mas, não ficou por ali. Encabeça, também, a lista candidata à Assembleia Municipal. Na entrevista concedida, por escrito, refere que a dupla candidatura surgiu por uma “questão puramente estratégica”. Como também não estava prevista a apresentação de candidaturas a qualquer uma das 13 assembleias de freguesia do concelho. No entanto, garante que daqui a quatro anos isso possa acontecer. Ou então, eventuais apoios a projectos válidos já existentes. 

Pombal Jornal (PJ) – Como surgiu a sua candidatura autárquica?
Amílcar Malho (AM) –
A minha candidatura surgiu no contexto de um grupo de cidadãos sem qualquer filiação partidária, com o objectivo de tornar o concelho num espaço cuja economia, o emprego, a acção social, a educação, cultura, o lazer, a saúde, a segurança e o ambiente sejam tratados de modo a satisfazer as necessidades das pessoas. É urgente que Pombal face à sua localização tenha uma dinâmica de incentivo ao empreendedorismo e à captação de investimento, de modo a potenciar emprego de qualidade.

PJ – Havia quem não acreditasse que conseguiria reunir o número de proponentes suficientes
AM –
Entendemos que não haveria razão para supor que essa situação pudesse ocorrer, apesar do elevado grau de exigência que é imposto às candidaturas de grupos de cidadãos. Desde Abril, foi necessária uma coordenação assertiva para reunir as condições necessárias de modo a que todos os elementos tivessem condições para prestar o seu contributo. Aqui aproveito para realçar a inteira disponibilidade da Fátima Santana, a nossa mandatária, e do Firmino Martins, o nosso primeiro proponente, que desde o primeiro minuto foram os elos dinâmicos na recolha das assinaturas.

PJ – Como justifica ao eleitorado o facto de ser um duplo candidato, encabeçando as listas à Câmara e Assembleia?
AM –
Esta é uma questão puramente estratégica, que foi decidida, de forma consensual, por todos os elementos da equipa Independentes por Pombal (IPP). Os pombalenses avaliarão, com o seu voto soberano, a validade dessa estratégia.

PJ – O movimento independente não conseguiu, contudo, apresentar candidaturas às assembleias de freguesia…
AM –
Esse nunca foi um objectivo para esta fase da vida do grupo de cidadãos Independentes por Pombal (IPP). Temos um projecto que é forte e seguirá o seu trajecto, por isso é natural que em próximas eleições possam surguir candidaturas às assembleias de freguesia ou então eventuais apoios a projectos válidos já existentes.

AM – Caso seja eleito para os dois órgãos a que se candidata, por qual irá optar?
PJ –
Optarei pela Câmara Municipal.

PJ – Como vê o facto de ser candidato numas eleições que são as mais concorridas do concelho, com oito candidatos à Câmara?
AM –
É um sinal de vitalidade democrática. Hoje em dia a actividade política não se esgota nos partidos políticos. Existe um desejo cada vez maior da parte dos cidadãos de se envolverem na causa pública. No resto do país assistimos a um aumento cada vez maior do número de candidaturas independentes. De facto, não podemos escamotear esta realidade que no meu entendimento urge como um apelo à necessidade de implementação de novas dinâmicas.

PJ – De que forma tem acompanhado a actividade autárquica no concelho?
AM –
A frequência com que vou ao meu concelho tem permitido que me depare com queixas provenientes, quer de cidadãos anónimos, quer de empresários ou instituições. Desde o surgimento da crise de 2008, estas queixas acentuaram-se. Na grande maioria focaram-se na constatação de que a emigração é a única alternativa face às sucessivas falências, com consequente perda de emprego e quebra do poder de compra, que se reflectiu na lenta agonia do comercio local. Também me apercebi que não tem sido desenvolvido um verdadeiro trabalho de oposição à actual gestão autárquica. Todos os elementos do grupo de cidadãos Independentes por Pombal (IPP) que vierem a ser eleitos trabalharão de forma incansável em prol daquele que é o nosso único e verdadeiro objectivo: a defesa intransigente dos interesses de Pombal e dos pombalenses.

PJ – Como avalia a actual gestão municipal?
AM –
Sem colocar em causa o empenho, a capacidade e a boa intenção do actual executivo municipal, a actual gestão está bastante aquém do que seria desejável. Atenda-se ao seguinte: a dinâmica do concelho de Pombal esteve sustentada nas últimas décadas no sector da construção. Sendo este um dos sectores que mais sofreu na crise, a Câmara Municipal não foi capaz de implementar modelos alternativos para manter ou minimizar os impactos negativos face à queda deste sector. Assim, o nosso concelho precisa de ter à frente dos seus destinos alguém que tenha força e visão suficientes para imprimir um novo rumo, que incentive o empreendedorismo e a captação de investimento.

PJ – E para além da economia?
AM –
Não obstante outras acções, temos a convicção de que uma oferta de formação profissional de qualidade na área das tecnologias, o incentivo e o apoio a projectos inovadores podem potenciar a diversificação e o crescimento de novos sectores de actividade rentáveis. Na área social a Câmara Municipal não agiu atempadamente face às consequências da crise, deixando demasiadas respostas para o âmbito do voluntariado, sendo que estas estão essencialmente na cidade de Pombal, apesar dos elevados recursos da Câmara. Do ponto de vista de atractividade turística, o indicador chave da Câmara é o número de visitas ao Castelo. Contudo os turistas não são vistos pela cidade… É necessária uma dinâmica diferente nesta área, de modo a diversificar a oferta cultural com zonas de lazer/ espaços verdes, promover a gastronomia e outros produtos regionais e potenciar os recursos da Serra de Sicó, praia do Osso da Baleia, zonas históricas de Abiul, Redinha e Louriçal, de modo a promover a imagem de um concelho aprazível, onde se viva com qualidade ou que se visite com prazer…

PJ – Quanto ao ambiente…
AM –
Na área ambiental, devido à recolha de inertes na serra de Sicó, é urgente que a Câmara implemente medidas de requalificação, mitigando o impacto ambiental e tornando a serra mais aprazível. Nesta área dever-se-á resolver o problema da floresta e dos cursos de água, os quais não tem sido alvo de intervenções eficazes, pelo menos visíveis ou percepcionados pela população em geral. No que respeita às infra-estruturas rodoviárias, a Câmara tem melhorado a qualidade do piso das rodovias no concelho face ao executivo anterior, pois estas apresentavam-se como tapetes escorregadios, em vários locais provocando entre 1997 e 2013 um número elevado de acidentes nas estradas do concelho. Nesta área, a Câmara deverá continuar com o seu processo de melhoria focado nos requisitos de segurança das pessoas. Neste ponto, é necessário com urgência construir passagens superiores ou inferiores em vários locais da IC2.

PJ – Usa como bandeira a atracção de investimento para Pombal. É uma das suas prioridades?
AM –
É a prioridade número um. Sem investimento produtivo é impossível lançar uma política concertada de desenvolvimento municipal. O investimento produtivo gera emprego qualificado e desenvolvimento económico.

PJ – De que forma poderá Pombal conseguir captar novas empresas, quando existe uma forte competição territorial?
AM –
A Câmara de Pombal pode criar um sistema de incentivos (tais como variar o preço dos terrenos em função da qualidade do projecto e redução da Derrama), oferta profissional de qualidade na área tecnológica, ao nível da ETAP e no apoio ao projecto de Ensino Profissional do Agrupamento de Escolas de Pombal, desenvolver a Escola dos Saberes/ Partilha de Conhecimento, divulgação activa das potencialidades do concelho, criar e incentivar contactos de modo a aumentar a adesão à instalação de novas empresas.

PJ – Também as áreas do ambiente, cultura, educação e apoio social tem merecido uma referência da sua parte…
AM –
Sim. O compromisso dos Independentes por Pombal visa nestas áreas o seguinte: Mais qualidade ambiental e paisagística, colaborando com sensibilizações eficazes no cumprimento da lei junto das entidades relevantes e criação de mais espaços verdes/ lazer de modo a promover a qualidade de vida e o convívio entre as gerações. Mais dinâmica cultural, reforçando a actividade das instituições artísticas e culturais com a participação regular das entidades apoiadas pela autarquia. Melhorar a oferta de formação profissional, promovendo a diversificação das áreas formativas da Escola Tecnológica e Profissional e proporcionando uma especialização após o 12ºano para os jovens que não seguem o ensino superior. Incentivar a educação intergeracional com a criação da Escola de Saberes, promovendo a partilha de conhecimento e experiencia profissional. Maior proximidade aos munícipes realizando visitas frequentes às freguesias do concelho com o intuito de fazer o levantamento das suas necessidades e preocupações. Mais solidariedade e respeito por todos implementando medidas que vão ao encontro das necessidades dos munícipes (fome zero, desperdício zero, nem mais um idoso abandonado, teleassistência, etc…).

PJ – Se for eleito vereador, que tipo de contributo poderão os pombalenses esperar de si?
AM –
Ninguém nesta altura se propõe a criar um programa que não sejam os próprios a executar.

PJ – Assiste-se cada vez mais ao aparecimento de candidaturas independentes. Como analisa esse facto?
AM –
Há sempre alguém que poderá fazer mais e melhor, satisfazendo as necessidades dos cidadãos. Os partidos são máquinas bem oleadas para conquistar o poder, mas muitas vezes preocupam-se mais em defender os seus próprios interesses ou os interesses obscuros de quem os apoia, esquecendo-se de que o seu principal compromisso democrático deveria ser com os cidadãos que os elegem. Uma candidatura independente como a protagonizada pelo grupo de cidadãos Independentes por Pombal (IPP) é uma candidatura sem interesses obscuros, que apenas responde perante Pombal e os pombalenses.

“Motor para uma nova etapa de desenvolvimento do concelho”

PJ – Há quem afirme que não há políticos independentes. Se tivesse sido convidado a integrar uma lista partidária aceitaria?
AM
– Não. Os Independentes por Pombal (IPP) afirmam-se desde o primeiro momento como um projecto próprio e têm a convicção de que a implementação deste projecto é o motor para uma nova etapa de desenvolvimento do concelho. Estou certo que a integração numa qualquer lista partidária ficaria muito aquém do que nós temos em vista com este projecto.

PJ – É um cidadão desiludido com os partidos políticos?
AM –
Os partidos políticos têm a sua máquina própria formatada para atingir os dividendos políticos programados, gerindo a sua actividade face à sociedade. Contudo, desde o início deste século os partidos políticos têm, a meu ver, estagnado face à evolução de uma sociedade mais culta, mais aberta, mais exigente. Neste contexto, os partidos actuam cegos e fechados com uma governação desadequada. Assim, os partidos devem evoluir e tomar como exemplo os projectos que têm vindo a surgir tal como o projecto Independentes por Pombal e outros.

PJ – No panorama político, situa-se mais à “esquerda” ou à “direita”?
AM –
No enquadramento da União Europeia, a competitividade económica tem que estar presente para a manutenção ou conquista de novos mercados. Isto não faz de mim, nem de ninguém, um político de direita ou de esquerda. É uma constatação. Do mesmo modo que as minhas preocupações sociais, que são a base da cidadania de um povo, não fazem de mim, nem de ninguém, um político de direita nem de esquerda. Portanto, eu sinto-me parametrizado no projecto Independentes por Pombal.

 

O abiulense com rede de contactos de investidores

Apresenta-se como uma pessoa apartidária que nunca esteve filiada em nenhuma organização política. Amílcar Barros Malho, tem 51 anos, é Gestor de Investimentos, e apresenta-se como candidato à Câmara Municipal de Pombal e, simultaneamente, à Assembleia Municipal. No entanto, o economista com uma pós-graduação em “Corporate Finance e Inovação Financeira”, natural da freguesia de Abiul, garante que em caso de eleição optará pelo cargo de vereador da Câmara. Amílcar Malho foi professor durante quatro anos e exerceu funções na Associação Comercial e de Serviços de Pombal no âmbito do projecto de modernização do comércio, que tinha como objectivo a revitalização comercial da zona histórica. Refere que desde 2002 dedica-se à “gestão de investimentos em mercados financeiros o que permite ter conhecimentos profundos sobre a economia e internacional”, exibindo uma “rede de contactos com investidores nacionais e internacionais”. E como se apresenta o candidato independente, residente em Lisboa, ao eleitorado pombalense? A resposta é peremptória: “como líder de uma equipa empenhada em fazer crescer o município, dando-lhe uma nova dinâmica económica e social, tendo em vista a satisfação das reais necessidades das pessoas”. “Esta é uma liderança que se pautará pela gestão racional, mas de coração aberto, cujo único e exclusivo interesse é criar condições para as pessoas se fixarem na sua terra com a qualidade de vida desejada”, afirma.

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Ingressou no jornalismo, em 1989, como colaborador no extinto “Pombal Oeste” que foi pioneiro na modernização tecnológica. Em 1992 foi convidado a integrar a redacção de “O Correio de Pombal”, onde permaneceu até 2001, quando suspendeu a profissão para ser Director de Comunicação e Marketing de um grupo empresarial de dimensão ibérica. Em 2005 regressou ao jornalismo, onde continua, até aos dias de hoje, a aprender. Ao longo destes (largos) anos de actividade, atestados pelo Carteira Profissional obtida em 1996, passou por vários jornais, uns de âmbito regional e outros nacional, onde se inclui o “Jornal de Notícias” e “Público”. Foi convidado a colaborar, de forma regular, com o “Pombal Jornal” onde se produz conteúdos das pessoas para as pessoas. Foi convidado a colaborar, de forma regular, com o “Pombal Jornal”, quinzenário com o qual deixou de colaborar no final de Maio de 2020.