Investigadores identificam espécies e definem acções para proteger zonas húmidas da Mata do Urso

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Um grupo de voluntários, incluindo cerca de 15 investigadores e alguns populares, realizaram 420 observações e identificaram 174 espécies. Este é o primeiro balanço do bioblitz, que se realizou “com sucesso” entre os dias 7 e 9 de Outubro, nas zonas húmidas da Mata do Urso, na freguesia do Carriço. A próxima actividade no âmbito desta iniciativa acontece a 29 de Outubro, a qual está aberta à população em geral. As inscrições podem ser feitas até dia 26 através do email couto_santos@live.com ou 969 228 477.

“Cedo o entusiasmo tomou conta dos participantes pelo ‘tesouro’ que existe nas lagoas da Mata do Urso, na freguesia do Carriço”, começou por dizer Luís Couto, membro do Grupo de Cidadãos Eleitores Oeste Independentes, promotor da iniciativa.

E não era para menos, afinal o bioblitz, que decorreu num “curto espaço de tempo”, permitiu identificar quatro espécies de mamíferos, répteis, anfíbios, um peixe invasor, oito espécies de aves, 18 espécies de fungos, 23 espécies de invertebrados e 114 espécies de plantas, das quais 15 são plantas exóticas, duas ameaçadas e 10 raras, enumerou.

Nestes três dias foram ainda encontradas quatro espécies de carriços, que deram origem ao nome da freguesia, levando o ecólogo Jael Palhas a afirmar que o “Carriço será a capital dos carriços”.

O bioblitz permitiu ainda perceber que “as lagoas da Mata do Urso conseguiram guardar muitos dos seus tesouros”, mesmo perante “um conjunto de ameaças”, das quais são exemplos as plantas invasoras como a acácia, o eucalipto e a erva das pampas, assim como factores de risco de origem natural como o incêndio de 2017, a tempestade Leslie em 2018 e o actual período de seca.

Ainda assim, “importa debater estratégias que ajudem as zonas húmidas a restaurarem e restabelecerem o seu equilíbrio, de modo a permitir o desenvolvimento das espécies nativas que as caracterizam”, sublinha Luís Couto numa nota enviada ao Pombal Jornal.

E é precisamente esse trabalho que se propõe fazer o blioblitz. Esta iniciativa apresenta-se como “uma oportunidade de reunir um conjunto de especialistas/ conhecedores de várias áreas científicas”, nomeadamente ao nível da fauna (répteis, anfíbios, morcegos, aves), da flora (plantas aquáticas e terrestres em habitats de dunas e pinhais do litoral, bem como em ambientes de turfeira), da geografia, entre outras matérias.

O principal objectivo consiste em “inventariar as espécies existentes nas zonas húmidas da Mata do Urso” e “analisar as principais ameaças”, identificando “as oportunidades que os aparentes obstáculos/ desafios ali nos colocam”. Com base nessa informação, o “conjunto de especialistas” vai debater “futuras estratégias e medidas” que poderão ser adoptadas para “ajudar a preservar e recuperar as espécies” ali encontradas.

Por enquanto, esta iniciativa contribuiu para “encontrar um vasto conjunto de espécies que indicam a importância destes habitats”, que “aos nossos olhos aparentam ser lagoas secas e num grande estado de destruição”, mas “importam urgentemente preservar”, salientou Gabriela Marques, residente na freguesia do Carriço e investigadora, cuja tese de mestrado em Ecoturismo está centrada nesta área.

Gabriela Marques destaca ainda que, “pelos resultados obtidos, a Lagoa de S. José e a Lagoa das Correntes, consideradas em maior estado de vulnerabilidade, apresentam um grande conjunto de espécies indicadoras de habitat de turfeiras da região do Litoral, dentro destas um conjunto variado do género Carex, denominado de carriços na linguagem popular, ericáceas e juncos, entre outras gramíneas com estatuto de espécie rara, ameaçada ou em risco de extinção”.

Recorde-se que o bioblitz está integrado num programa de residências científicas sob a coordenação científica da bióloga Ana Marta Costa e do ecólogo Jael Palhas e idealizadas pelo arquitecto paisagista Ricardo Camacho e por um grupo de cidadãos locais representados por Luís Couto e a investigadora Gabriela Marques. A coordenação local estará a cargo de Gabriela Marques que, por residir na freguesia, tem vindo ao longo dos anos a chamar a atenção para esta região e o seu valor ecológico.

De salientar que a actividade é apoiada pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).

 

PRÓXIMOS PASSOS

Com o intuito de dar continuidade ao trabalho de identificação das espécies, este grupo de voluntários realiza, no próximo dia 29 de Outubro, uma “actividade de Halloween diferente”.  Trata-se da “Noite das Criaturas das Trevas”, que voltará a contar com investigadores, mas no período noturno, revelou Luís Couto.

“O controlo de invasoras é de carácter urgente”, pelo que aquele responsável desafia a população a associar-se a uma acção de controlo de espécies invasoras na Lagoa dos Linhos, a realizar nesse mesmo dia 29 de Outubro.

Os interessados em participar podem inscrever-se, até dia 26, através do email para couto_santos@live.com ou ligando para 969 228 477.