Violência doméstica junta sociedade civil em homenagem às vítimas

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números divulgados recentemente não deixam margem para dúvidas: a Casa Abrigo de Pombal recebeu, entre 2001 e 2018, 1.007 mães e filhos vítimas de violência doméstica. Os dados foram avançados à agência Lusa pela directora técnica, Sandrina Mota, e são apenas a pequena parte de uma realidade que atravessa todo o país e com contornos que merecem preocupação acrescida. Segundo os dados divulgados pelo Observatório de Mulheres Assassinadas, em 2018 o número de vítimas de homicídio, perpetrado pelos maridos, companheiros ou familiares foi superior ao do ano anterior. Ao todo, no último ano, foram mortas 28 mulheres em Portugal, mais oito do que no ano anterior. Mas em 2019, este quadro corre o risco de ser ainda mais negro. Segundo os dados divulgados pela Polícia Judiciária ao Observador, o número de casos de homicídio em contexto de violência doméstica, investigados nos dois primeiros meses do ano pela PJ, representa quase metade do total de homicídios investigados no mesmo período. Dos 23 inquéritos abertos por homicídio consumado em Janeiro e Fevereiro, 11 tiveram como cenário casos de violência doméstica.

Foi durante a divulgação, na comunicação social, de mais um homicídio, ocorrido no Seixal, que Patrícia Ferreira e Andreia Marques decidiram que era preciso fazer algo em Pombal para reforçar as acções de sensibilização da população para esta problemática, transversal a todas faixas etárias e estratos sociais. “A ideia surgiu durante a hora de almoço”, sem que nada o fizesse prever, conta Patrícia, mas a verdade é que “houve um bichinho que despertou”, alimentado, também, pelas memórias dos dias em que ambas, apesar de em contextos diferentes, foram vítimas de violência doméstica.
Na certeza de que “Todos nós merecemos um castelo”, as duas jovens foram as mentoras  de uma marcha de homenagem a todos quantos têm sido vítimas deste crime, e onde as mulheres estão em larga maioria. O evento realizou-se na tarde do último domingo, dia 10, e contou com o apoio do Município de Pombal e de todas as Juntas de Freguesia do concelho.
A concentração teve lugar no Largo do Cardal e, dali, os cerca de 300 participantes, na sua grande maioria vestidos com uma peça de roupa preta (como expressão de luto e de homenagem a todas aquelas que pereceram às mãos dos seus agressores, tal como as organizadoras tinham sugerido) seguiram, em marcha silenciosa, até ao castelo de Pombal, ‘guiados’ por uma menina vestida de branco, onde o imenso cordão humano ‘abraçou’ aquele monumento e foi feito um minuto de silêncio. Com este gesto simbólico, a organização quis deixar uma mensagem de afecto e solidariedade para com todas as vítimas.