PRIMEIRO ESTRANHA-SE, DEPOIS ENTRANHA-SE | Abençoado Santo António

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A revolução dos cravos fará 50 anos em 2024, daqui a sensivelmente 3 anos. De modo a comemorar este meio século de liberdade, foi escolhido para comissário executivo das comemorações, Pedro Adão e Silva.
Cargo esse equiparado em termos de renumeração a um dirigente superior de 1º grau da Administração Pública, o que resulta num salário bruto de 3745,26 euros, ao qual acresce ainda 780.36 euros em despesas de representação. Tem também direito a uma autêntica máquina composta por oito pessoas: três adjuntos, três técnicos especialistas, um secretário pessoal e ainda um motorista, equiparados a membros de gabinete de um membro do Governo.
Irá exercer, segundo consta em Diário da República publicado no dia 27 de maio, até ao dia 31 de dezembro de 2026. Sim, leu bem, dois mil e vinte seis. Terá, portanto, dois anos após o quinquagésimo aniversário do 25 de abril. Quem sabe se nesses dois anos após as celebrações aproveite o balanço e organiza também as celebrações dos 50 anos do 25 de Novembro.
Adão e Silva tem assim ao todo cinco anos, seis meses e 24 dias para organizar um evento de um dia apenas.
Tudo isto com aval do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa que não vê “qual seja a razão em termos de competência, de qualificação e conhecimento da realidade portuguesa para ser questionado”.
Mas quem é Adão e Silva? Nascido precisamente no ano de 1974, foi membro do Secretariado Nacional do PS entre 2002 e 2004, sob a liderança de Ferro Rodrigues. Em 2009 colaborou na moção que José Sócrates levou a congresso do PS. Comentador em vários órgãos de comunicação, conotado como comentador afeto de António Costa, Adão e Silva é licenciado em sociologia e doutorado em ciências sociais e políticas. É professor auxiliar no ISCTE e diretor do Doutoramento em Políticas Públicas da mesma instituição, vínculo esse que vai suspender para se dedicar às comemorações conforme adiantou. Acrescenta que não foi ele que escolheu a ele próprio. Pobre Adão e Silva, foi abençoado por Santo António.
Prevendo-se uma remodelação do Governo nos próximos meses, quem também poderá agradecer a bênção de Santo António é Ana Paula Vitorino, atual deputada do PS, Ministra do Mar do primeiro governo de António Costa e… esposa de Eduardo Cabrita, o infortunado ministro da Administração Interna do primeiro e do atual governo de António Costa.
Foi o nome escolhido pelo ministro das Infra-estruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, para presidir à Autoridade da Mobilidade e dos Transportes (AMT), entidade que regula os transportes em Portugal.
Caso a nomeação se concretize, segundo os dados publicados no site da própria AMT, Ana Paula Vitorino tem direito a uma renumeração base de uma módica quantia de 12 000 euros, acrescidos de 4800 euros para despesas de representação.
O Partido Socialista já conta com um longo historial de nomeações de governantes unidos por laços familiares, o que facilita acusações de nepotismo, compadrio, cria-se conflitos de interesses e facilita a corrupção. Levanta-se assim esta questão: não há mais ninguém neste país à beira mar plantado com competência para executar estas funções?

Cristiana Areia
Engenheira Química | Membro da Iniciativa Liberal Pombal

*artigo publicado na edição impressa de 17 de Junho