OPINIÃO | Estarão as nossas crianças demasiado tempo ao ecrã?

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Os ecrãs estão omnipresentes na nossa vida e das crianças. No nosso quotidiano, em diversos contextos, observamos que as crianças estão constantemente expostas a todo o tipo de equipamentos eletrónicos e a tempos de ecrãs continuados.
Brincar é um dos direitos definidos na Convenção Internacional sobre os Direitos das Crianças e brincar é também uma forma de aprendizagem e de desenvolvimento cognitivo, motor, emocional e social das crianças pelo que importa saber se existe associação entre tempo de ecrã e a saúde das crianças!
Segundo os Descritores em Ciências da Saúde, o tempo de ecrã é o período de atividades realizadas na frente de um ecrã eletrónico, como assistir televisão, trabalhar no computador ou jogar videojogo. O tempo de ecrã é também ver equipamentos eletrónicos como telemóvel, tablet, consola.
O tempo de utilização de ecrãs está a aumentar rapidamente à medida que as tecnologias se tornam parte da socialização, educação e vida em geral. Estarão as nossas crianças demasiado tempo ao ecrã? Os estudos dizem que sim. Que implicações? As consequências do tempo de ecrã excessivo têm atraído considerável atenção em pesquisa, saúde e debate público na última década.


Os benefícios dos dispositivos de ecrã, se usados moderadamente e apropriadamente, podem ser uma mais-valia, mas a pesquisa demostrou que o tempo face a face com a família, amigos e professores desempenha um papel fundamental e ainda mais importante na promoção da aprendizagem e do desenvolvimento saudável das crianças.
Quando as crianças estão a visualizar equipamentos eletrónicos não aproveitam importantes oportunidades para praticar e dominar competências pessoais, motoras e de comunicação e de interação com os seus cuidadores, que são essenciais para promover o crescimento e desenvolvimento adequados.
No estudo de Madigan et al. (2019), os autores concluíram que existe relação entre o tempo de exposição da criança a ecrãs e os atrasos na aprendizagem quando entram na escola aos cinco anos de idade.
O tempo de ecrã em excesso nas crianças pode trazer problemas no desenvolvimento infantil ao nível das capacidades físicas e cognitivas, e pode contribuir para a obesidade, problemas de sono, emocionais, comportamentais e sociais.
Quais as orientações dos peritos?
As diretrizes da Academia Americana de Pediatria em 2016 e mais recentemente, em 2019, a Organização Mundial de Saúde recomendam:
Para as crianças até aos 2 anos de idade, o tempo de ecrã não é recomendado. O uso de qualquer tipo de utilização de ecrãs deve ser desencorajado, com exceção da utilização da conversação por vídeo (ex. com familiares).
Para as crianças dos 2 aos 5 anos, o limite de tempo de ecrã é de 1 hora ou menos por dia.
Para as crianças com mais de 6 anos, devem ser estabelecidos limites consistentes para o tempo gasto com os equipamentos digitais e garantir que não substituem o sono adequado, a atividade física e outros comportamentos essenciais à saúde e comunicar continuamente sobre cidadania e segurança online, incluindo o respeito pelos outros online e offline.
Todas as crianças precisam de dormir, ter atividade física e tempo sem equipamentos eletrónicos.
Atendendo a que vários estudos concluem que o tempo de ecrã está associado a restrições no processo de desenvolvimento da criança é importante tomar medidas na família para se envolverem com a tecnologia de maneira positiva de forma a garantir o sucesso no desenvolvimento das crianças que crescem na idade digital.
Nas medidas podem utilizar-se estratégias como o controlo parental, visualizando programas com elas no sentido de perceber se o que as crianças visualizam é apropriado e ajudando-as a entender o que estão a ver e poderem aplicar ao mundo que as rodeia; o conteúdo digital que se utiliza deve promover interação, conexão e criatividade; definir zonas livres de ecrãs como o quarto, a mesa de refeições e o carrinho de criança; definir horários sem ecrãs, como nos momentos em família e uma hora antes de dormir e colocar um limite de tempo de utilização.
Os tempos devem ser definidos em família e estes tempos sem ecrã devem ser comuns a todos os membros da mesma, no sentido de desenvolver um equilíbrio para o uso da tecnologia desde cedo.
Ao diminuir o tempo de ecrã as crianças terão mais tempo para: ver livros, andar de triciclo, jogar ao faz de conta, jogar com legos, brincar com amigos e/ou família, …. Brincar!

Jerusa Marisa Gameiro | Enfermeira Especialista de Saúde Infantil e Pediatria
jmgameiro@arscentro.min-saude.pt
Unidade de Cuidados na Comunidade (UCC) Pombal

Fontes:
https://www.aap.org/en-us/about-the-aap/aap-press-room/pages/american-academy-of-pediatrics-announces-new-recommendations-for-childrens-media-use.aspx
Madigan S, Browne D, Racine N, Mori C, Tough S. Association between Screen Time and Children’s Performance on a Development Screening. JAMA Pediatrics 2019; 173:244-250. doi.org/10.1001/jamapediatrics.2018.5056
Organização Mundial de Saúde (OMS). (2019). Guidelines on physical activity, sedentary behaviour and sleep for children under 5 years of age. Geneva: World Health Organization. Retrieved from https://apps.who.int/iris/handle/10665/311664.