“O nosso objectivo é precisamente fazer a divulgação do partido e os seus valores”

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Pascoal Oliveira Duarte, 46 anos, técnico do Gabinete de Inserção Profissional de Pombal, vai ser o rosto do Partido da Terra nas eleições de 1 de Outubro. Vai protagonizar a estreia do movimento político nas Autárquicas no concelho. Reconhece tratar-se de um partido de “pequena dimensão” e novo no território, daí afirmar que um dos objectivos da sua candidatura passa por divulgar e dar a conhecer “o partido do trevo, de quatro folhas, da sorte, do verde esperança”. Não aponta o dedo à actual gestão autárquica, liderada há mais de duas décadas pelo PSD, mas afirma que a sua equipa, constituída por “pessoas multifacetadas e extraordinárias”, poderá contribuir para melhorar o caminho de desenvolvimento que o concelho segue.

Pascoal Oliveira

Pombal Jornal (PJ) – O Partido da Terra é um estreante nestas eleições. Como é que surgiu a sua candidatura?
Pascoal Oliveira (PO) –
Foi há cerca de um ano que fui convidado para assistir a uma reunião da estrutura concelhia de um projecto relativamente novo em Pombal. Passados oito dias fomos ao congresso do MPT [Movimento Partido da Terra], à Figueira da Foz, onde me foi apresentado o presidente do partido, o doutor José Inácio Faria, eurodeputado. E gostei. Passado pouco tempo, surgiu logo a hipótese de participar no projecto autárquico. Íamos ter autárquicas e perguntaram-me o que nós poderíamos fazer. Se eu estava disponível para dar a cara pelo MPT, e eu aceitei. Senti-me bastante honrado e lisonjeado por me terem escolhido. Nunca fui uma pessoa que deixei de dar a minha opinião a nível político, apesar de nunca ter estado em algum partido especificamente. Mas estava disposto, até tendo em conta os valores do partido e os pilares em que o MPT se assenta e com os quais me identifico.

PJ – Foi então uma conjugação de vários factores…
PO –
Apesar de ser um partido com pouca dimensão em Pombal, eu tenho notado que as pessoas não nos conhecem, mas depois de lhes explicar os pilares e os valores do partido, que no fundo são o humanismo e a ecologia, que somos um partido que é transversal, situado naquilo que dizemos ser o centro, e que não tem grandes dogmas e doutrinas, as pessoas até estão a achar interessante. E até querem saber mais. Foi isso que me cativou, porque efectivamente também sou daquelas pessoas que apesar de nunca ter deixado de votar, sentia-me desiludido com os chamados grandes partidos, com estes escândalos e estas coisas todas que se vêem na política. Gostando eu da política e havendo aqui um partido que até estava com vontade de apresentar um projecto, aceitei.

PJ – Qual o objectivo da candidatura?
PO –
Sempre disse que a minha candidatura iria ser o rosto do MPT. O nosso objectivo é precisamente fazer a divulgação do partido e os seus valores. Chegámos inicialmente a pensar em apresentar candidaturas às freguesias, mas entendemos que de momento ainda não tínhamos dimensão para isso. E para estarmos a fazer uma coisa à toa não o fizemos. Fizemos à Câmara e também à Assembleia Municipal, até porque, efectivamente, conseguimos arranjar pessoas. Devo-lhe dizer que até notámos que, se calhar, se tivéssemos começado um bocadinho mais cedo até podíamos ter conseguido candidaturas para as juntas de freguesia. Mas, para já, vai ser assim. Não vamos concorrer por concorrer, também queremos ter a maior votação possível, como é óbvio. No entanto, queremos dar a conhecer o partido do trevo e que as pessoas conheçam que existe um outro partido em Pombal.

PJ – De que forma o MPT pode contribuir para o desenvolvimento do concelho?
PO –
Aquilo que nós constatamos, e que vimos, é que efectivamente o nosso concelho… não podemos dizer que se encontra mal ou que esta a ser mal governado. Agora, acho que podemos contribuir com novas ideias, com gente nova. A nossa equipa, que é uma equipa multifacetada, é constituída por uma grande parte de pessoas que nunca esteve na política. São pessoas que se calhar conseguem ter uma visão um bocado diferente das pessoas que ultimamente têm estado a governar o nosso concelho. É aquilo que nós entendemos. De facto, não queremos utilizar ou não estamos aqui para dizer mal do que está feito. Entendemos sim que há coisas que podem melhorar e para as quais podemos contribuir.

PJ – Apresentarão um programa inovador…
PO –
O nosso programa irá ser tornado público, entretanto. Temos um diagnóstico sobre o que está feito e uma proposta para aquilo que poderá melhorar. Há uma coisa que nós constatamos, e é fácil de ver, é que a nossa população tem estado a diminuir de ano para ano e isso é problemático. Para além de haver a diminuição acentuada, muito acentuada, temos também uma taxa de crescimento natural negativa que é quase cinco vezes superior à média nacional. Temos também uma taxa de natalidade baixa e um índice de envelhecimento muito grande, que está actualmente nos 177. Quer dizer que, para cada 100 jovens, temos 177 pessoas idosas. Esta diminuição da população regista-se em quase todas as freguesias, havendo quatro em que não houve esse decréscimo que foi Pombal, Meirinhas, Guia e Albergaria dos Doze.

“a nossa população tem estado a diminuir de ano para ano e isso é problemático”

PJ – E deve-se a quê?
PO –
Isto deve-se um bocadinho à saída das pessoas das aldeias para localidades mais próximas. Conheço alguns casos da minha aldeia (Santiais) que devido ao Plano Director Municipal as pessoas veem-se obrigadas a sair da aldeia e ir para Albergaria dos Doze. Estamos aqui a falar em quatro quilómetros. Portanto, teremos de pensar como poderemos inverter a situação, porque achamos que as aldeias são fundamentais, e por algum motivo temos os estrangeiros a vir para cá e a vir para as nossas aldeias.

PJ – De que forma?
PO –
Achamos que o associativismo poderá ser muito importante. Entendemos que as associações, fruto do trabalho de muitos anos, poderão servir para ajudar as pessoas a ficar nas aldeias. Existem as associações e entendemos que, quer através da criação de centros de dia, ou de centros de actividades de tempos livres, poderão ser reformuladas. Deixar de ter aquela missão que tinham anteriormente, que era onde as pessoas conviviam, criando-as como pólos dinamizadores.

PJ – E quanto à área económica?
PO –
Pombal tem crescido, como é óbvio. Cerca de 43% das empresas do concelho estão em Pombal e cerca de 40% dos trabalhadores trabalham em Pombal. Também tem havido a criação de novas empresas, bastantes empresas. Temos actualmente 4.500 empresas em Pombal, sendo que continuam a ser as empresas de construção civil as mais dominantes, o que é importante constatar, seguindo-se o comércio a retalho.

PJ – Uma tónica dominante dos restantes candidatos é a necessidade de atracção de investimento…
PO –
Tendo em conta a minha experiência profissional, existe uma situação em Pombal que é preocupante. Em 30 anos, de 1981 a 2011, houve uma redução, de cerca de 42% para 2%, no sector primário. Uma transferência enorme para o sector terciário. Foi uma coisa extraordinária. Tendo em conta a taxa de analfabetismo, que é extraordinariamente alta, que em 2011 estava nos 10%, o que assusta bastante, ajuda-nos a perceber um pouco o problema que temos ao nível do desemprego. Apesar de termos uma taxa abaixo da média nacional, temos um desemprego que é preocupante. São pessoas que têm baixas habilitações, que já têm alguma idade e que temos alguma dificuldade em fazer com que entrem novamente no mercado de trabalho. Quando nós falamos em puxar empresas novas, há uma coisa que é importante: é que para além da nossa localização geográfica, que sem dúvida nenhuma é uma mais-valia, é necessário que haja mão-de-obra qualificada. Também entendo que fazia falta empresas tecnológicas, mas por outro lado é importante que as empresas também tenham pessoas para trabalhar.

PJ – Como se pode resolver essa problemática?
PO –
De uma forma mais consertada, ter uma ligação entre o ensino profissional e algumas empresas. Já está a ser feita alguma coisa, por exemplo, a Escola Secundária de Pombal já tem 50% dos seus alunos no ensino profissional. O que eu noto é que há ainda um grande desfasamento entre o que é a parte escolar e a realidade. E aí a Câmara tem de ter um papel. Terá de haver aqui um entendimento entre o poder público, as escolas e as empresas.

PJ – Portanto, depreendo que existe falta de mão-de-obra qualificada em Pombal.
PO –
Temos uma taxa de analfabetismo que é muito preocupante. Estamos a falar de pessoas que não sabem ler nem escrever. E aquelas que têm baixas habilitações chegam aos 25%. E este grupo é o que está desempregado. Outra situação que achamos importante é o ensino para adultos. Temos três centros Qualifica em Pombal, pelo que eu acho que poderiam ser muito mais dinamizados. Sem esquecer a existência de uma associação comercial, uma outra de industriais e uma cooperativa agrícola. As duas associações estão a atravessar uma fase complicada e com dificuldades. Não sei de que forma, mas a Câmara poderá tentar ajudar, ou pelo menos tentar perceber o que pode fazer para as ajudar. Houve um afastamento, por parte dos empresários, das suas próprias associações. Talvez por culpa de uns e de outros. A intervenção da Câmara poderá ser como uma mediadora. Repare: a Associação de Industriais tem óptimas instalações e condições e é pena não as podermos potenciar. Por outro lado, a mudança do sector primário para o terciário também deixou a agricultura abandonada. No entanto, existem empreendedores interessados em investir, mas que não conseguem ser devidamente apoiados. E, aí, a cooperativa agrícola poderia ter um papel mais activo.

“Temos uma taxa de analfabetismo que é muito preocupante”

PJ – Está a dizer que a Câmara Municipal poderá um papel de parceira e de motor?
PO –
Eu acho que sim. Sem querer estar a fazer uma crítica, porque efectivamente a nossa Câmara tem tido uma preocupação nessas questões. Aquilo que nós achamos é que, com novas ideias e novas pessoas, poderão ser melhorados alguns aspectos. Estamos disponíveis para ajudar, com o nosso projecto, com as nossas pessoas, que são da sociedade civil, que são capazes de trazer ideias novas.

PJ – Mesmo após o 1 de Outubro, independentemente do resultado eleitoral?
PO –
Eu pessoalmente sim. Temos um projecto para continuar e não apenas para estas eleições.

“JOSÉ INÁCIO FARIA TEM SIDO UMA DAS MINHAS MAIORES MOTIVAÇÕES”

PJ – E o que é esse partido do trevo?
PO – É o MPT, o Partido da Terra. É um partido que surgiu em 1993 pelas mãos do arquitecto Gonçalo Ribeiro Teles. É um partido que desde sempre teve muita participação em tudo o que diz respeito ao ordenamento do território, porque o arquitecto Gonçalo Ribeiro Teles é a pessoa no país que mais tem contribuído para estas questões do ordenamento do território, quer ao nível das cidades, quer ao nível da floresta. Já esteve também num Governo. Obtivemos a maior votação de sempre, em 2014, para as eleições Europeias, em que obtivemos 234 mil votos, o que possibilitou a eleição de dois eurodeputados. Um desses eurodeputados é o nosso actual presidente, que é doutor José Inácio Faria, uma pessoa que tem tido um papel – e tem sido uma das minhas maiores motivações – extraordinário na União Europeia. Não tem tido problemas em dar a cara por algumas questões… tivemos algumas conferências promovidas por ele, a título pessoal e a título do partido, acerca da degradação da costa e também sobre a abertura da base aérea de Monte Real à aviação civil, por exemplo.

PJ – Um impulsionador para a afirmação do partido em Pombal…
PO – Tem sido uma pessoa bastante dinâmica, que tem puxado muito por nós, que nos tem dado muita força, e que eu, pessoalmente, o vejo como um exemplo. É um indivíduo muito dinâmico e muito interessado nas questões da ecologia e do humanismo, que nós entendemos serem fundamentais, tendo em conta a sociedade e esta evolução. Cada vez mais queremos dar mais enfoque às pessoas.

“A nossa principal força são as pessoas”

PJ – Como é que vê estas eleições, em que se apresentam oito candidatos à Câmara?
PO – Estas eleições decorrem num contexto político um bocadinho adverso. De facto temos oito candidatos, o que é curioso. Pela nossa parte, somos uma estreia. Não estamos a concorrer contra ninguém, queremos é efectivamente dar-nos a conhecer. Somos o partido do trevo, de quatro folhas, da sorte, e de esperança. No início do processo tivemos alguns encontros e, se tivesse surgido a possibilidade teríamos, ido coligados, mas tal não foi possível, e cá estamos. Numas eleições em que queremos que se registe menos abstenção. Aquilo que nós pretendemos é precisamente chegar àquelas pessoas que estão, de certa forma, desiludidas com a política. Os indecisos, mas também os desacreditados. Temos pessoas com quem falamos que nos dizem que se calhar até vão votar… há quatro anos houve 26 mil pessoas que não votaram em Pombal.

PJ – Como vai desenvolver a sua campanha? Para já, sabe-se que é aquela que apresenta um orçamento mais baixo…
PO – Como um partido de pequena dimensão, não temos financiamentos. A nossa principal força são as pessoas, é a equipa fantástica que temos, e que vai fazer tudo por tudo para passar a palavra. Vai ser uma campanha porta-a-porta e com recurso às redes sociais. Possivelmente não iremos ter cartazes. O próprio desafio em si é um desafio aliciante. Mas fazêmo-lo com convicção. Vamos até ao fim com os meios que tivermos.

“SOU UMA PESSOA DE TRABALHO”
Pascoal Duarte Oliveira apresenta-se como “uma pessoa de trabalho”. Aos 46 anos é, desde há nove anos, técnico de emprego no Gabinete de Inserção Profissional de Pombal (GIP). Antes, esteve uma década a “servir o país” no exército, “com bastante orgulho e honra”. Estreia-se na política activa ao encabeçar a lista candidata pelo Movimento Partido da Terra (MPT) à Câmara Municipal de Pombal. Mas reconhece que é conhecido como “o doutor Pascoal do GIP”. “É assim que muita gente me conhece”, diz, adiantando com alguma humildade que ajudou “muitas pessoas a tentarem resolver algumas situações desesperantes relacionadas com o desemprego”. Sobretudo num momento em que o concelho assistiu ao aumento de 900 para 2.500 do número de desempregados. No entanto, Pascoal Oliveira considera que “os pombalenses são pessoas extraordinárias” e “conseguiram ultrapassar as dificuldades”. Quando é desafiado a apresentar-se, o estreante nas lides autárquicas refere que os amigos dizem que é “um bocado idealista”. Contudo, reconhece ser “reservado” e um amante do atletismo, fazendo “algumas corridas” com um grupo de amigos da Charneca. Quanto à actividade política, citando o Papa Francisco, o candidato refere que “se nós não formos para a política, vão outros”. No que toca ao MPT, Pascoal Oliveira considera ser uma alternativa para quem “não se identifica” com os, designados, “grandes partidos”. “Acho pertinente que exista um projecto que tem como base os princípios da ecologia e do humanismo”, que é “o partido do trevo, de quatro folhas, verde esperança”.

 

 

Entrevista publicada na Edição de 24 de Agosto

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Ingressou no jornalismo, em 1989, como colaborador no extinto “Pombal Oeste” que foi pioneiro na modernização tecnológica. Em 1992 foi convidado a integrar a redacção de “O Correio de Pombal”, onde permaneceu até 2001, quando suspendeu a profissão para ser Director de Comunicação e Marketing de um grupo empresarial de dimensão ibérica. Em 2005 regressou ao jornalismo, onde continua, até aos dias de hoje, a aprender. Ao longo destes (largos) anos de actividade, atestados pelo Carteira Profissional obtida em 1996, passou por vários jornais, uns de âmbito regional e outros nacional, onde se inclui o “Jornal de Notícias” e “Público”. Foi convidado a colaborar, de forma regular, com o “Pombal Jornal” onde se produz conteúdos das pessoas para as pessoas. Foi convidado a colaborar, de forma regular, com o “Pombal Jornal”, quinzenário com o qual deixou de colaborar no final de Maio de 2020.