N(A) ESCOLA DA VIDA | As linhas com que se coze a Educação

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1918

E entretanto mudou a hora. Para o horário de verão. Parece mentira, como o que se diz ser o 1 de abril que também já lá vai. E mudou no primeiro dia de inverno da primavera. Devolvemos ao tempo o tempo que ele nos deu nos últimos suspiros de outubro.
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Naquele dia era primavera no calendário e no céu. Numa curta passagem pela experiência de estar “do outro lado” numa sala de aulas, levei a metodologia de “balanço de competências” a um público que não está “formatado” para estas temáticas, mas sim para cuidados continuados e paliativos. Deram-me mais do que possam imaginar. E mostraram-me que o que levei imprimiu-lhes um significado acrescido na aprendizagem. Acredito que ensinar também é isto: levantar da cadeira, dialogar, partilhar e cultivar a predisposição para aprender. Sempre me vi mais a falar com eles do que para eles.
Vidrados na rotina, no tempo, nas horas que os dias têm (e nas que não têm) e em tirar gansos vivos de acanhadas garrafas de vidro sem as partir, quantas vezes nos esquecemos de sentar (numa esplanada, numa rede de baloiço, na areia com o mar a roçar os pés descalços e livres, numa pedra no cimo da serra de onde se avista a da Boa Viagem em dias destapados) e refletir: de onde vimos, onde estamos, para onde vamos. A isso, em Educação e Formação de Adultos, chamamos “balanço de competências” e com isso construímos uma narrativa autobiográfica. Ou uma história de vida. E isso contribui para a conscientização, para uma abordagem emancipatória e para uma (trans)formação experiencial.
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Num dos momentos em que me sento (e sinto), acompanho textos de opinião, notícias e por aí fora. Cá dentro, perto de nós, neste retângulo. E aqui, perto de nós, onde as histórias de vida são uma prática que constitui um desafio e uma possibilidade de tomar a vida nas suas próprias mãos e uma arte singular de fazer de si uma obra.
Sim, entretanto mudou a hora. Para o horário de verão. E mudou no primeiro dia de inverno da primavera. E não é mentira que ainda muito há a mudar para reduzir as taxas de analfabetismo (funcional, digital, …) e contribuir para que mais gente (e mais gentes) acreditem que “as histórias de vida permitem abrir para uma outra maneira de pensar a formação de adultos e a relação dos adultos ao saber e ao conhecimento” (Couceiro, 2000, p. 75), pois as pessoas não só fornecem matéria para o conhecimento como produzem conhecimento de si para si.
Sim, ainda há muitas linhas a escrever para cozer a Educação (e Formação de Adultos). É sempre hora de ir ali adiantar mais algumas…

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Embora os documentos legais a identifiquem como natural de Pombal, foi em Coimbra que respirou autonomamente pela primeira vez. Assim, desde o penúltimo dia de dezembro de 1982 assumiu um compromisso com a vida: aprender a ser. Quase duas décadas depois regressou à cidade do Fado e do Mondego para dar continuidade à sua formação académica na área de Ciências da Educação. Aprofundaria aqui o significado de outro pilar: aprender a conhecer. Começou a aprender a fazer em 2007, quando a socialização profissional lhe abriu as portas no ramo da Educação e Formação de Adultos, no qual tem trabalhado e realizado investigação. Gosta de “sair por aí” e observar e fotografar todas as esquinas. Reserva ainda tempo para a escrita, sentindo-a como um elixir lhe permite (re)descobrir uma energia anímica e uma força motriz nos cantos mais inóspitos aos quais muitos olhares não associariam qualquer pulsar. É, neste campo, autora de obras literárias individuais e de vários textos e poemas publicados em coletâneas. E é assim que lê, sente e inala o mundo, num permanente aprender a viver com os outros.