HIC ET NUNC | Todos contam

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Abiul é uma freguesia com 53,16 km2 mas apenas com 2236 habitantes, isto segundo o censos de 2021. Foi vila e sede de concelho entre 1167 e 1821, mantendo nos nossos dias um importante património cultural, arquitetónico, histórico e religioso que importa dignificar.
Depois de atingir os 5190 habitantes em 1950 foi perdendo população de forma gradual até aos dias de hoje, com diversos fluxos migratórios internos e externos. Dos cidadãos atuais, 917 têm mais de 65 anos e apenas 350 são jovens com menos de 25 anos.
A nível político e considerando as últimas eleições autárquicas, apenas votaram cerca de 40% dos 2484 eleitores num total de 982 votos, representando pouco mais de 4% dos votos totais do concelho. Poderia ser esta a razão para o executivo municipal se esquecer deste território, no entanto existem outras freguesias do concelho com menor população e igual expressão aritmética eleitoral que conseguem captar grandes investimentos públicos e privados.
Decorrido mais de um ano dos incêndios de Julho de 2022, ainda se encontram pelo território placas diversas por trocar, sinaléticas que nunca mais foram colocadas, terrenos por limpar, taludes por recuperar, agricultores sem apoio e muitas pessoas sem qualquer ajuda para retomar a sua vida.
O presidente da República visitou esta freguesia no passado dia de Natal entregando alguma esperança na correção da injustiça burocrática de falta de apoio pós-fogo, no entanto foi mais uma desilusão para todos.
Atualmente o centro de saúde está sem médico, as acessibilidades mantêm os problemas de sempre, os clubes desportivos estão quase todos encerrados, as antigas escolas estão a leilão e o comércio vai fechando sendo que nem o café localizado em frente à igreja Matriz sobreviveu.
Os miúdos que frequentam o segundo e terceiro ciclos do ensino básico assim como a escola secundária são obrigados a sair de casa de madrugada para vir para a sede de concelho, em virtude de uma política de concentração que se estará a revelar excessiva.
A atual zona industrial parece abandonada tendo sido anunciado um acordo, entre a fundação proprietária do projeto e o município, para a sua reabilitação. No entanto, o anúncio quase simultâneo de uma nova zona industrial mais a oeste que servirá as freguesias de Abiul e Vila Cã faz duvidar da existência de uma estratégia e que esta se venha a concretizar.
A icónica praça de touros apenas abre portas meia dúzia de vezes no ano, em Agosto e pelo Carnaval, e o anfiteatro da junta de freguesia está encerrado. Também culturalmente a descentralização municipal deve ser regra emprestando alguma da dinâmica existente na sede do concelho para dinamizar as freguesias.
No Plano Plurianual de Investimentos do Município, consta apenas uma rúbrica sem qualquer verba assignada para a construção da variante de Abiul e 110.000€ para o parque verde do Seiçal.
Abiul e as suas gentes merecem mais!
Aliás, Abiul por todas as dificuldades que enfrenta e pelo esquecimento de que tem sido vítima talvez até mereça mais do que outras freguesias.
Abiul merece uma reconversão ambiciosa e ousada do seu centro histórico que lhe permita voltar a ter vida, merece acessos condignos e seguros às suas casas e à sua zona industrial, merece zonas urbanizadas que permitam habitação acessível aos seus habitantes e atrair novos residentes, merece os serviços mínimos básicos para fixar pessoas.
Abiul e os Abiulenses merecem muito mais!

Telmo Lopes
Presidente da concelhia de Pombal do CDS-PP

*Artigo de opinião publicado na edição impressa de 12 de Outubro