Ginastas da Acropombal participam no Campeonato do Mundo

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A Acropombal atingiu um feito histórico: pela primeira vez, dois pares de ginastas do clube foram seleccionados para o Campeonato do Mundo de 2021,a decorrer na Suíça. Contudo, para poder participar, a associação precisa de um apoio de 4.000 euros, já que a federação não suporta das despesas.

 

O ano de 2021 vai ficar na história da AcroPombal. Dois pares do clube de ginástica acrobática integram, pela primeira vez, a comitiva da Selecção Nacional que participa no Campeonato do Mundo, a disputar em Genebra, na Suíça.
O par masculino formado por Danilo Horobetes, de 17 anos, e João Pedrosa, de 12 anos, compete na categoria de juniores, enquanto Bruno Felizardo, de 24 anos, e Bruna Gameiro, de 16 anos, disputam a competição em seniores (par misto).
Um patamar alcançado que muito deve, também, à dupla de treinadores: João Paulo Simão e Hugo Santos. “É um trabalho muito árduo”, reconhece João Paulo Simão, adiantando que aqueles ginastas “treinam uma média de 4/5 horas por dia”. Além disso, “é um trabalho de muitos anos. O Bruno, sénior, está comigo desde os 15/16 anos, a Bruna Gameiro desde os 6 e o João desde os 5. Eles estão dentro da modalidade e sabem o que é preciso para lá chegar”, constata o técnico.
A preparação para o Mundial teve início em Junho de 2020, tendo os pares sido seleccionados após três momentos de apuramento. “Eles precisam ter uma nota mínima, bem alta, para serem apurados. Em duas dessas provas têm de ter essa nota e ficar nos dois primeiros lugares, porque Portugal leva sempre dois grupos de cada especialidade”, explica o treinador.
Chegar ao Mundial é, “para a AcroPombal e para qualquer clube, o objectivo de topo”, reconhece o mesmo responsável, assumindo que este “é o ponto alto da carreira” daquela associação desportiva, mas também dos treinadores. “Mais do que isto não há, a não ser que o par misto consiga chegar à final e ir depois aos Jogos Olímpicos, daqui a dois anos”, adianta João Paulo Simão. “Demorou mas cheguei lá”, afirma, com orgulho.
Mas as horas de treino intenso dos últimos meses só foram possíveis graças à disponibilidade proporcionada pelo actual contexto pandémico. “A pandemia teve coisas negativas, mas também positivas”, refere João Paulo Simão. “Negativas em termos económicos, porque ficámos sem miúdos, já que a federação só autorizou os ginastas de primeira divisão a treinar”, ou seja, “os miúdos que estavam no processo de apuramento para o Campeonato do Mundo”.
Contudo, e numa perspectiva positiva, “neste segundo confinamento, eles faziam treinos bi-diários, de manhã e de tarde”, o que permitiu “mais horas de treino”, essenciais “para se chegar a um nível destes”, evidencia o treinador.
E se o mais complicado foi alcançado – obter o apuramento -, há agora outra questão que preocupa João Paulo Simão: o financiamento para poderem participar. À excepção dos seniores (par misto), cujas despesas são asseguradas pela federação, a Acropombal precisa de cerca de 4.000 euros para garantir a participação dos ginastas juniores. “Até o equipamento da Selecção Nacional nós temos que pagar”, lamenta o técnico. Acrescem ainda os gastos com as viagens, dormidas e alimentação.
A expectativa é que a Câmara Municipal apoie o clube, até porque “é algo importante para o concelho”, afirma João Paulo Simão. “Se não fosse a pandemia, nem precisávamos pedir apoio, porque fazíamos um sarau ou dois”, mas o actual contexto impediu a realização dos habituais espectáculos.
Com o apuramento para o Mundial concretizado, a Acropombal concentra-se agora, também, no processo para os campeonatos da Europa, a decorrer em Setembro, em Itália, com o segundo momento do apuramento a ter tido lugar no sábado passado, no Expocentro, em Pombal. Para além dos dois pares seleccionados para o Mundial, João Paulo Simão contou, neste treino, com mais um par masculino, o Tomás Conceição e o Rafael Santos.

Acrobática com um longo historial
Designar João Paulo Simão como o ‘pai’ da acrobática em Pombal está longe de ser um exagero. O antigo ginasta e actual treinador foi o responsável pela introdução da modalidade no concelho. Hoje, com 52 anos, e já fora das competições, orgulha-se do trabalho feito ao longo dos anos e das raízes que a acrobática ganhou.
Ginasta desde os 16 anos, iniciou-se também como treinador ainda muito jovem, um pouco por mero acaso. “Quem começou a dar treinos em Pombal foi o João Dias, da Académica, que ficou cá duas épocas e depois saiu. Como ginasta mais velho, fiquei responsável pelo grupo e comecei a dar treinos aos 18 ou 19 anos”, recorda. Até aos 28 anos, acumulou a competição com os treinos, até que, nessa altura, optou por assumir apenas o papel de treinador. “Foi quando comecei a fazer espectáculos, que nunca tinha feito”, conta, lembrando que a novidade foi “um sucesso e pegou moda”.
João Paulo Simão deu os primeiros passos na modalidade no Sporting Clube de Pombal, passou depois para o Núcleo de Desporto Amador de Pombal até que, há cerca de 12 anos, concretizou um sonho: fundou a Acropombal – Associação Desportiva. “A partir dessa altura tudo evoluiu”, constata. “Contratei muito mais gente e dividi os miúdos. Comecei com miúdos de quatro anos e alguns deles ainda estão aqui, como o Danilo, que faz 18 anos este ano”, diz. “Já tenho na AcroPombal a terceira geração”, clube onde “entram muito cedo e só saem quando vão para a faculdade”, refere. “Os que entraram há 14 anos vão sair agora. Andei com eles ao colo, com quatro anos”, evidencia, com emoção.

*Notícia publicada na edição impressa de 03 de Junho