DA ILUSTRE TERRA DO MARQUÊS | Uma certa esquerda localmente alojada

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A extrema-esquerda, nalguns casos caviar, mas não só, que tem servido de suporte, mas também de inspiração, a muitas das medidas irrealistas, demagógicas e até utópicas, tomadas no âmbito da governação a que se chamou e se chama ainda, embora menos, de “geringonça”, sofre do complexo a que se pode chamar de “bem prega Frei Tomás”.
Por um lado, defende a estatização total da economia. É o marxismo no seu verdadeiro esplendor! Tudo é do Estado, teremos que ser todos funcionários públicos, o património é todo propriedade do Estado, não há propriedade privada. A saúde é monopólio do Estado, a educação também, a economia, tudo funciona na órbitra do Estado. Os privados são um alvo a abater, não se sabendo quem é que depois vai produzir para exportar e para consumir e quem vai pagar impostos para sustentar a “máquina” do Estado.
Sabemos o efeito que estas políticas tiveram nos países onde foram postas em prática. Pobreza, subdesenvolvimento económico, falta de liberdade, controlo policial, ou seja, exatamente o contrário das “amplas liberdades democráticas”, tão apregoadas. O exemplo dos países do bloco de leste e, especialmente, da antiga União Soviética, são historicamente evidentes. Por isso, a necessidade de abertura à economia de mercado, foi o resultado do marxismo, para poderem num mundo globalizado, concorrer com os países livres, de economia aberta, desenvolvidos. A China é um exemplo evidente de um capitalismo estatal, baseado na exploração da classe operária.
Porque, o que importa é ver os exemplos práticos e os resultados dessas políticas coletivistas, nos países que foram obrigados a segui-las. Não apenas discutir modelos teóricos que, no papel, falam de igualdade e de justiça social, mas que, na prática, conduzem a países com economias estagnadas, parados no tempo, ou geridos à força, onde a felicidade é uma utopia, sempre condicionada e adiada.
Mas, para os paladinos dessa extrema-esquerda, é importante aproveitar o capitalismo, enquanto o socialismo não chega. Nas assembleias, municípios e noutros fóruns, vociferam contra a iniciativa privada, o capitalismo, contra tudo o que é privado. Mas, depois, na prática, aproveitam as liberdades que ainda existem, para mostrar uma voracidade capitalista que, estranhamente, não lhes afeta as consciências, nem lhes tira o sono utópico com que se deitam.
Os exemplos conhecidos não fazem corar os protagonistas, fiéis adeptos de Frei Tomás. A dirigente de um desses partidos critica o alojamento local, mas pratica-o, sendo sócia de uma empresa que exerce essa atividade. Outro dos ativistas desse partido, ficou conhecido por vociferar contra a exploração capitalista feita pelos interesses imobiliários nas cidades, especialmente em Lisboa, para depois comprar um prédio à Segurança Social por um preço irrisório (cerca de 300.000 euros), fazer algumas beneficiações (cerca de 600.000 euros), para depois o pôr à venda por um valor superior a 5 milhões de euros. As críticas que logo se levantaram, parecem ter transformado o projeto em alojamento local, mas o idealismo desta esquerda caviar é mais que evidente: milhões, quanto mais milhões de euros melhor, antes que venha o socialismo e nos deixe a todos na miséria, seguindo o exemplo venezuelano e outros.
Devo confessar que não entendo como é que, de forma racional, estas ideias, estas incoerências, podem ter seguidores e adeptos na sociedade portuguesa. A não ser que, implementando os modelos que apregoam, haverá quem tire vantagens, mesmo sabendo que a maioria da população não será beneficiada. Ainda à volta de interesses económicos obscuros, ouvimos dizer os responsáveis que ponderam lutar contra a corrupção, como se não fosse obrigatório, patriótico e urgente, fazê-lo imediatamente, tanto mais que isso já deveria ter sido feito há bastante tempo.
Os exemplos são conhecidos, embora pouco divulgados, porque a imprensa dependente (falada, escrita e audiovisual) prefere ocultá-los. Com isto, apesar de ainda existir muita gente honesta na política, o País é prejudicado, a classe política é descredibilizada, a ética e a moral republicanas são uma miragem…
PS: Curiosamente, hoje é o dia 11 de março. Neste dia, em 1975, em pleno PREC, os bancos, companhias de seguros e outros setores da economia, foram nacionalizados. Estivemos à beira do abismo cubano, venezuelano…Felizmente, foi possível inverter este caminho. Queira Deus que não haja retrocessos…

Manuel Duarte Domingues
manuel.duarte.domingues@gmail.com

*Artigo de opinião publicado na edição impressa de 11 de Março

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Natural de Viuveiro, Vila Cã, Pombal (1948), residente em Pombal. Licenciado em Controlo de Gestão pelo Instituto Superior de Contab. e Administ. de Coimbra. Contabilista e Consultor de Empresas desde 1977. Revisor Oficial de Contas desde 1993 (de Empresas públicas e privadas, cooperativas, autarquias, etc.). Fiscal Único no âmbito do Ministério da Saúde de diversos Hospitais EPE, desde 2002. Presidente do Conselho Fiscal da Vista Alegre Atlantis, SGPS, SA. Ex-Professor do Ensino Secundário (EICPombal) e do Ensino Superior (ISCAC e ISLA). Serviço público prestado: Oficial Miliciano de Administração Militar, Membro da Assembleia Municipal de Pombal e Presidente da Assembleia de Freguesia de Vila Cã. Cargos exercidos em associações: Vice-Presidente da Direção da A H B V Pombal; Presidente do Conselho Fiscal de: AICP–Assoc.Indust.Conc.Pombal; da Santa Casa da Misericórdia de Pombal; e do Sporting Clube de Pombal. Presidente e Membro da Comissão Revisora de Contas da Fundação Rotária Portuguesa. Cargo atual: Presidente do Conselho Fiscal da A. H. dos Bombeiros Voluntários de Pombal, desde 2005. Livros publicados: “DA ILUSTRE TERRA DO MARQUÊS…” – 1º Volume (2011, 2ª edição 2013); 2º Volume (2016), reunindo crónicas publicadas em jornais e revistas e outros escritos, destinando-se o produto da venda, integralmente, a Instituições de Solidariedade Social.