O CONCELHO EM ANÁLISE | Tempos de incerteza

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Um mês após a infecção COVID-19 ter chegado a Portugal, o nosso dia-a-dia mantém-se inundado por contínuas notícias sobre esta pandemia. Sabemos que a ameaça é real, vivemos na angústia dos números e interrogamo-nos quanto à nossa capacidade de responder, cientes de que as suas consequências na economia vão deixar marcas. Tirar conclusões sobre o impacto de um evento tão extremo enquanto este ocorre acarreta enormes riscos. Contudo, num período de extrema incerteza, em que centenas de milhões de pessoas temem não apenas pela sua saúde, mas também pelos impactos económicos que este fenómeno terá nas suas vidas. A ambiguidade e incerteza do futuro, pode ser combatida com a agilidade, comunicação e mobilização de todas as organizações para actuar sobre os imprevistos.
Com este exemplo de união, na esperança e confiança que #tudovaificarbem, na incerteza de como será Portugal, Europa e Mundo pós COVID-19, deveremos todos aproveitar os momentos de crise para retirar lições para o futuro de como melhorar a nossa capacidade de adaptabilidade e, a partir delas, criar formas de proteção, inovação e reinvenção para o benefício de todos.

PONTOS FORTES:
Solidariedade e cooperação

“Em tempos difíceis não há concorrência, há solidariedade e cooperação”

Perante um novo inimigo comum, os esforços unem-se e temo-nos deparado com o surgimento de diversas iniciativas para ajudar os profissionais de saúde, e os portugueses em geral, a ultrapassar os desafios impostos pela pandemia.

Desde as formas mais tradicionais, da disponibilização de pessoas para fazerem compras ou ir à farmácia a quem não pode sair ou não tem familiares que ajudem, à disponibilização de alojamento para os profissionais de saúde. Da adaptabilidade das linhas de produção de algumas empresas para a produção de máscaras, viseiras e todo o equipamento médico que os hospitais precisem, até aos gestos mais simples como ir à janela bater palmas aos profissionais de saúde tem o seu impacto, fazendo saber que o seu esforço está a ser reconhecido e valorizado pela sociedade.

Em tempos de pandemia, a sociedade civil responde com solidariedade e tudo isto demonstra que dos grandes obstáculos, nasce também uma força maior do que a soma das partes que desafia a criatividade, a disponibilidade e a solidariedade de cada um de nós.

OPORTUNIDADES:
Aposta na digitalização

Como é possível constatar na crise actual, a digitalização permite-nos comunicar, trabalhar e aprender sem a presença física. A robótica permite que o trabalho físico seja, em grande medida, substituído, libertando as pessoas para a produção de conhecimento.

Mas este esforço de digitalização pressupõe muita inovação e ela só está ao alcance de sociedades com elevado grau de conhecimento e educação, abertas à criatividade e premiando o esforço individual.

Portugal, à semelhança do que outros também estão a fazer, não pode deixar de olhar para o desafio da digitalização com mais dedicação e motivação para se poder afirmar numa escala global e não ficar para trás num processo já em andamento há muito. É fundamental o estímulo à produção e fixação de conhecimento, com uma política fiscal, bem como redução de burocracias, que permita quer a indivíduos, quer a empresas desenvolver as áreas de valor do presente que serão fundamentais para o futuro.

A aposta no mundo digital é a que nos permitirá vencer os desafios como os que hoje se colocam. Esse será um enorme contributo para a reconstrução económica, tão necessária após a crise que já se faz sentir em resultado desta pandemia.

PONTOS FRACOS:
Impactos na economia

Basta ouvir os noticiários de vários países para nos apercebermos da situação dramática em que a economia se encontra: lojas fechadas ou desertas, escolas encerradas, trabalhadores em casa. Como é que o pequeno restaurante que não tem receitas pode pagar aos seus empregados que estão em casa? Os desafios económicos são, por isso, muito complexos.

Combinados, os efeitos dos choques do lado da oferta e do lado da procura têm o potencial de se traduzirem num cenário de forte abrandamento da economia e aumento do desemprego, com consequências para as finanças públicas na quebra de receita fiscal e contributiva, aumento de transferências sociais (subsidio de desemprego e subsídio de doença) e aumento do consumo intermédio das administrações púbicas (por via do sector da saúde).

A tarefa de moderar os efeitos recessivos do COVID-19 não é de todo simples, ainda para mais, numa altura em que a imprevisibilidade sobre a escala da propagação e a duração do surto são apontadas como o fator que torna refém a assertividade sobre as projeções.

AMEAÇAS:
Futuro da União Europeia

Na situação trágica e de absoluta emergência que vivemos presentemente, um plano generoso e compartilhado de ajuda financeira urgente às economias europeias é a única forma de a UE responder à sua primeira vocação de factor e instrumento de reconciliação, de integração, de estabilidade e prosperidade.

A falta de solidariedade exibida pela Alemanha e pela Holanda na cimeira extraordinária de chefes de Estado e governo dos 27 países da União Europeia da passada quinta-feira, dedicada à crise do novo coronavírus, é egoísta e transgressora até daquele que deve ser o espírito e a lei dos tratados europeus.

Pensava-se que as características diferentes desta crise – ao ter atingido todos os países quase por igual e por não se poder acusar ninguém de ter sido culpado – permitiriam que houvesse um maior consenso na direcção de uma maior partilha de risco, nomeadamente através de uma mutualização da dívida que permitisse aos países mais pressionados pelos mercados obterem a custos baixos o financiamento de que precisam para contrariar a crise

No plano europeu de emergência financeira pode ser uma boa ideia a emissão de títulos de dívida europeia (as já chamadas coronabonds) ou outro instrumento desse tipo mais inovador. O que não é aceitável é a rejeição de medidas inovadoras e a persistência do recurso a soluções antigas, de alcance reduzido e de risco não partilhado, como a já falada abertura de linhas de crédito a partir do Mecanismo Europeu de Estabilidade. E não serve o argumentário germânico de que todos os países da zona euro ainda se conseguem financiar neste momento nos mercados financeiros a taxas muito baixas. Até quando?

No final do dia, se a UE não acudir realmente num todo às economias em paragem a Europa cairá no precipício de uma brutal recessão.

 

Nicolle Lourenço
Engª Eletrotécnica | Deputada Municipal PSD
nicolle_lo@hotmail.com