“Poderia haver mais união no xadrez”

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No âmbito do ciclo de entrevistas que a Oficina Xadrezista & Cultural Marquês de Pombal/JRSF está a promover, dedicadas a algumas das maiores figuras do xadrez nacional e internacional, estivemos à conversa com o leiriense Carlos Oliveira Dias. O árbitro internacional, que integra o Top 10 mundial, vai estar em Pombal no próximo dia 22 de Abril, no Café Concerto, onde irá arbitrar o torneio de homenagem ao campeão europeu António Fróis.
Além da intervenção como fiscal da partida, Carlos Oliveira Dias trará consigo parte do imenso espólio acumulado ao longo dos anos e que impulsionou a criação do Museu de Xadrez, em Figueiró dos Vinhos. Uma oportunidade para os adeptos da modalidade e público em geral apreciaram peças únicas e que são o retrato da história do xadrez no nosso país.

Carlos Oliveira Dias vai estar em Pombal
Carlos Oliveira Dias vai arbitrar o torneio de homenagem a António Fróis, que se realiza no dia 22 de Abril, no Café Concerto

Quando descobriu esta paixão pelo xadrez?
Aos 6 anos pela ‘mão’ de dois tios, um paterno e um materno, tendo mesmo o paterno chegado a campeão de Moçambique nos idos de 50 e 60.

Porquê a opção de ser árbitro?
Decisão tomada em 1983, por gosto e por entender que seria servir a modalidade de outra forma.

Quais as principais qualidades para ser árbitro de xadrez?
Serenidade, presença e isenção. Conhecimento profundo, claro, das regras de jogo.

A “Oficina Xadrezista” está com o projecto de homenagear grandes figuras do xadrez nacional. O que acha desta iniciativa?
Uma ideia interessante, ainda mais, num país onde por regra se homenageiam as pessoas ‘post mortem’.

Conhecer Pombal à boleia de um xeque-mate é um conceito. O que pensa deste conceito?
Muito interessante esta forma de divulgar Pombal ao mundo. Trabalho muito meritório. De parabéns.

Xadrez vs Arte. Pode ser uma boa fusão?
Uma fusão natural. Xadrez é arte; a minha escola de xadrez tem o nome de Xadrezarte. Um conceito que permite fazer muitas actividades interessantes, assim existam apoios por parte de quem também deve ter interesse em divulgar Pombal.

No seu entender, como está a arbitragem nacional?
A arbitragem nacional reflecte um pouco o estado do nosso xadrez e peso nas instituições internacionais. Estamos, todavia, a dar os passos certos rumo a um futuro que antevejo risonho.

Carlos Oliveira Dias é um árbitro Top 10 mundial. Dentro da arbitragem, que mudanças faria?
Top 50, vá. O facto de nas últimas Olimpíadas ter estado sempre nas 10 primeiras mesas, (tendo mesmo arbitrado na última ronda na mesa 1), não é sinónimo de nada. Existem por volta de 50 árbitros de elite, nos quais me insiro.

Qual a pergunta que gostaria de responder?
Se me sinto de consciência tranquila. E sinto. Fiz o meu trajecto sem nunca ter atropelado ninguém, e sempre tentando dividir experiências e conhecimentos com os meus colegas.

Carlos Dias será o árbitro do Torneio Homenagem ao Campeão Europeu António Fróis. O que acha desta iniciativa?
Como acima referi, acho muito interessante e gratificante.

Sabemos que é dono de um espólio considerável de xadrez, ligado ao Museu Nacional de Xadrez. Quer falar-nos sobre isso?
Efectivamente, ao longo de 51 anos de xadrez, fui coleccionando várias coisas. Umas adquiridas, outras oferecidas. Daí, dada a grande quantidade e ter sido um dos três defensores da fundação de um museu. Grupo que durante 15 anos germinou esta ideia. Felizmente a autarquia de Figueiró dos Vinho entendeu a grandeza deste projecto e o museu virou realidade.

Que projectos gostaria de realizar?
Os projectos são muitos. Mas vamos devagar, e nesta fase, onde tanto já foi feito e à custa de tanto sacrifício, apetece-me desfrutar do prazer que o xadrez me dá também na vertente lúdica.

O seu porto seguro é…
A família, a minha casa.

O xadrez no distrito recomenda-se?
Diria que sim. Penso que se está a trabalhar bem, mas poderia haver mais união. Menos ‘olhares para o umbigo’.

Recentemente foi agraciado pela Federação Portuguesa de Xadrez. O que lhe vai na alma?
Alegria. Gesto que calou bem fundo. Este prémio é de muita gente. Gente que me ajudou. Apetece-me destacar três pessoas, os outros que me perdoem: o saudoso Durão que, através de dois convites para o estrangeiro, permitiu-me obter as duas últimas normas de Árbitro Internacional. O João Abrantes, porque foi o ‘responsável’ pelo início deste gosto pela arbitragem. Por fim, mas mais importante, o apoio que sempre tive de minha mulher, Lurdes, que nos últimos 31 anos me dividiu com esta minha paixão pelo xadrez. Sem o seu apoio, sem os sacrifícios que fez, nada teria sido possível.

Para finalizar, quais as suas ambições nesta caminhada xadrezista?
Devemos sempre ambicionar algo. É isso que nos mantém vivos e activos. Diria que arbitrar um match final para o título Mundial.
Quando, vai para 35 anos, abracei esta carreira, nunca disse que iria obter isto ou aquilo. Todavia, fiz uma promessa interior de que tudo iria fazer para chegar o mais alto possível, para dignificar o xadrez nacional.
35 anos depois, árbitro “A”, Instructor da Federação Internacional e membro da Comissão de Árbitros da Federação Internacional, ambiciono acima de tudo passar a minha experiência aos mais jovens.