Memórias do cinema

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Escrevo esta crónica enquanto aguardo pelo início da cerimónia de entrega dos Óscares. Prefiro seguir em directo do que acordar com os anúncios dos vencedores. É algo que já vem de trás. Ainda do tempo em que não havia transmissão televisiva em Portugal, nem internet para acompanhar a cerimónia. Levava o rádio para o quarto e ouvia a transmissão. E enquanto espero, recordo algumas das minhas melhores memórias cinematográficas. Desde os tempos em que os meus pais me levavam ao cinema em Lisboa, ao Tivoli ou Caleidoscópio, para ver os filmes da Disney. Ou uma noite, lá para o início dos anos 80, em que vi “O Grande Ditador” na agora zona desportiva de Pombal, debaixo de um telheiro que ali havia, penso que pela mão de um daqueles senhores que percorriam o país a fazer projecções. Lembro-me de sessões no “antigo” Teatro-Cine, onde ia praticamente todos os fins-de-semana. Mas há um episódio mais recente, já deste século, que me veio também à cabeça. Há uns anos, em Moçambique, na Praia do Tofo, estava parado um autocarro com uns italianos que, com o apoio da sua embaixada, percorriam o país fazendo sessões de cinema em localidades onde tal nunca ou raramente acontecia. Tinham uma lista extensa de opções que incluía grandes clássicos de todos os tempos e alguns filmes mais recentes (muitos deles italianos). Soube que iam fazer uma sessão em Inhambane, uma cidade próxima, e decidi ir lá dar uma espreitadela. Não me lembro qual era a longa-metragem do “menu” porque fiquei-me pelo aperitivo. Era uma curta do Charlot. E num estádio africano com centenas de pessoas, em que para algumas delas seria a primeira vez que assistiam a um filme, compreendi melhor a universalidade da sétima arte. Os risos espontâneos, o brilho nos olhos, a curiosidade que demonstravam, fez-me entender porque é que adoro o Cinema e pensar que também já fui (já fomos) assim…

Pode ser verdade que, hoje em dia, os Óscares sejam mais um negócio do que outra coisa, mas para mim, continuam a simbolizar também um pouco dessa universalidade. É o dia em que o mundo se junta colado ao pequeno ecrã, para ver coroadas as estrelas do grande ecrã. E termino por aqui porque a passadeira vermelha já se esvaziou e a cerimónia está a começar.

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