DA ILUSTRE TERRA DO MARQUÊS | Construir pontes e não muros

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“Construímos muros demais e pontes de menos” – Isaac Newton

Esta frase, atribuída ao pai da Ciência moderna, que viveu entre 1643 e 1727 e que descobriu várias leis da Física, entre elas a lei da gravidade, encerra conceitos extremamente importantes. Isaac Newton foi um cientista inglês, também reconhecido como filósofo. As frases que lhe são atribuídas, sendo a anterior um exemplo notável, demonstram a profundidade do seu espírito e a grandeza dos conceitos que, nos séculos XVII e XVIII, eram extremamente avançados para a época.
Sabemos, por experiência e estudo da História, que os conceitos fundamentais do saber humano foram construídos e aperfeiçoados ao longo dos séculos, graças ao trabalho de grandes pensadores que, em várias áreas, incluindo a religião, foram inovando, estudando os problemas, desbravando conceitos, apresentando soluções, procurando conhecer e compreender a complexidade da vida humana.
Acontecimentos historicamente importantes e alguns deles recentes, confirmam a frase que dá título a este texto. Mas, em aspetos mais simples e que fazem parte do nosso quotidiano, também sabemos quão verdadeira é aquela afirmação.
Construir pontes nas relações humanas e com todas as pessoas com quem interagimos, significa procurar o diálogo, trabalhar para conseguir entendimentos, valorizar o que nos une em detrimento do que nos separa, chegar a consensos. É esta, sem qualquer margem para dúvidas, a melhor maneira de resolver os problemas. Evitando dogmatismos ou autoconvencimentos presunçosos, mas antes ouvir opiniões, discutir ideias, defender conceitos, para tentar chegar às melhores soluções no sentido da sua otimização.
As pontes ligam as margens, unem montanhas, aproximam os povos, encurtam distâncias. Conhecemos muitos exemplos, quer no País, quer à escala planetária, de pontes que são obras-primas da engenharia e outras, mais modestas, mas cuja utilidade é indiscutível. Por isso, nas guerras, começa-se por destruir as pontes, para dificultar a vida aos adversários.
Ao contrário, erguer muros significa não querer o diálogo, opor barreiras, ter posturas dogmáticas, não admitir que as ideias dos outros também podem ser interessantes e que, por isso, valerá sempre a pena discuti-las e analisá-las porque, mesmo discordando, fica sempre alguma coisa positiva e útil, alguns aspetos que acrescentam valor e permitem chegar a conclusões que acabam por ser mais interessantes.
Relativamente aos muros, a sua construção pelos países nas suas fronteiras pode ter motivações diferentes. Pode ser para não deixar sair do país ou, ao contrário para não deixar entrar no país. Valerá, por isso, a pena referir alguns exemplos conhecidos.
Comecemos então pelo Muro de Berlim, construído em plena “guerra fria”. Tinha mais de 60 Km de comprimento e 3,6 m de altura. Começou a ser construído em 1961 e rodeava Berlim Ocidental, para evitar que os habitantes da chamada República Democrática Alemã (regime comunista), fugissem, para a liberdade, na Alemanha Ocidental. Muitos, mais de mil, morreram ao tentar fazê-lo, saltando o arame farpado que encimava o muro. Portanto, o objetivo era evitar que os alemães de leste, fugissem do país (ou prisão, apesar das “amplas liberdades”?) e do comunismo. Foi parcialmente demolido em 1989, aquando da unificação das duas Alemanhas. Hoje, a parte do muro que não foi demolida, é motivo de curiosidade histórica e de visita turística, também pelas suas pinturas interessantes e significativas.
Já existiam as Muralhas de Jerusalém na Cidade Velha, bem como o Muro das Lamentações, local sagrado para o judaísmo. Agora, o governo de Israel tem em construção o Muro da Cisjordânia que se prevê poderá vir a ter 760 Km e uma altura até 8 m. O objetivo é proteger o Estado de Israel dos ataques do fundamentalismo islâmico.
Outro muro que está a gerar polémica, é o muro entre os Estados Unidos e o México, também chamado “Muro da Vergonha”, como também era conhecido o Muro de Berlim. Começou a ser construído em 1994 mas, desde a eleição de Trump, teve novo impulso e mais notoriedade. O seu objetivo é evitar a emigração ilegal dos latino-americanos para os EUA.
Poderíamos dar mais exemplos para demonstrar que a máxima de Isaac Newton continua perfeitamente atual. Mas, se os decisores políticos quisessem e se se preocupassem mais com as pessoas, se não houvesse radicalismos, construiríamos mais pontes e menos muros e a Humanidade teria muito menos problemas e seria muito mais feliz.

 

Manuel Duarte Domingues
manuel.duarte.domingues@gmail.com

 

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Natural de Viuveiro, Vila Cã, Pombal (1948), residente em Pombal. Licenciado em Controlo de Gestão pelo Instituto Superior de Contab. e Administ. de Coimbra. Contabilista e Consultor de Empresas desde 1977. Revisor Oficial de Contas desde 1993 (de Empresas públicas e privadas, cooperativas, autarquias, etc.). Fiscal Único no âmbito do Ministério da Saúde de diversos Hospitais EPE, desde 2002. Presidente do Conselho Fiscal da Vista Alegre Atlantis, SGPS, SA. Ex-Professor do Ensino Secundário (EICPombal) e do Ensino Superior (ISCAC e ISLA). Serviço público prestado: Oficial Miliciano de Administração Militar, Membro da Assembleia Municipal de Pombal e Presidente da Assembleia de Freguesia de Vila Cã. Cargos exercidos em associações: Vice-Presidente da Direção da A H B V Pombal; Presidente do Conselho Fiscal de: AICP–Assoc.Indust.Conc.Pombal; da Santa Casa da Misericórdia de Pombal; e do Sporting Clube de Pombal. Presidente e Membro da Comissão Revisora de Contas da Fundação Rotária Portuguesa. Cargo atual: Presidente do Conselho Fiscal da A. H. dos Bombeiros Voluntários de Pombal, desde 2005. Livros publicados: “DA ILUSTRE TERRA DO MARQUÊS…” – 1º Volume (2011, 2ª edição 2013); 2º Volume (2016), reunindo crónicas publicadas em jornais e revistas e outros escritos, destinando-se o produto da venda, integralmente, a Instituições de Solidariedade Social.