Aviões em terra

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António Pires
Parece que existe em Portugal um problema generalizado de transportes coletivos. Na CP, as greves parecem ser mensais. No metro de Lisboa, volta e meia, há greve. A coisa estendeu-se recentemente à TAP.

Esta greve dos pilotos da TAP tem sido uma anedota, de fazer chorar. Os pilotos querem que se cumpra uma cláusula de um acordo de concertação de há mais de uma década e meia, a tal participação dos pilotos em 20 % do capital da empresa em caso de privatização, que a Procuradoria Geral da República considerou ilegal e inconstitucional. O sindicado dos pilotos não se explica, pelo menos pouco percebi das intervenções que fez, e pagou, segundo a imprensa, 800 mil euros a um assessor que negociou o novoacordo empresa com a TAP, e que recebe ainda 250 euros à hora na preparação da greve – já trabalhou 680 horas!

Gosto do assessor. Primeiro, porque me lembra a Ivone Silva e a célebre Olívia patroa e Olívia costureira. Ele é Lino da Silva, comandante da TAP, e ele é Paulo Rodrigues, assessor do sindicato! Segundo, porque deve negociar muito bem, o que se reflete nos chorudos honorários recebidos, não se entende é como então o sindicato decretou a greve, em face deste negociador exímio, ainda que entenda que ele a gostasse de decretar.

Mas no fundo, apesar do ridículo do assessor, este faits diver não é meu. Meu é aquilo que interfere com os enormes custos desta greve.

Custos imediatos de desvalorização da empresa.

Custos imediatos de prejuízos causados pela paralisação.

Custos de credibilidade da transportadora.

Custos de credibilidade do país.

Não sendo tão radical como Rui Rio, com fortes palavras a este propósito, entendo que a greve é um direito inalienável e fundamental dos trabalhadores, a ser utilizado com responsabilidade; por isso, custa-me a adoção de uma forma de luta que devaste uma empresa, quer do ponto de vistafinanceiro, quer em termos de reputação. É apenas por isto que não me sinto minimamente solidário com os pilotos, e não apenas neste caso, também noutros.

A CP é agora uma empresa pouco credível e com um enorme passivo. Falha em horários, não serve adequadamente os clientes, tem comboios fracos e chunga, preços elevados para o serviço medíocre que oferece e não é confiável. As greves, que nada reivindicam que beneficie os clientes, são uma rotina que os seus utilizadores têm de aturar.

O metro de Lisboa outro problema em mãos. Quando há greve, atrapalha essencialmente quem nada pode decidir sobre a empresa, quem não tem poder de pressão sobre a tutela, quem não tem possibilidade utilizar outros meios de transporte, eventualmente mais cómodos. A greve pouco serve os fins e pouco incomoda quem decide, atinge os mais fracos.

Agora a TAP parece querer alcançar este mimo de autodestruição, e numa versão ampliada. É que neste caso, há uma enorme vantagem para os utilizadores: alternativas, e muitas. Assim, um dia destes, estão aviões e pilotos da TAP em terra e os clientes a voar noutras companhias. Nessa altura, os 20 % que os pilotos pretendem serão 20 % de nada.

ANTÓNIO PIRES

(em 12 de maio de 2015)

antoniojosecpires@gmail.com